Criações de gado na Paraíba: tecendo a sobrevivência, domesticando afetos

Abstract

A criação de gado em Piancó, estado da Paraíba, tem como umas das principais especificidades a relação com o ambiente e vem passando por transformações devido à abertura de mercado para leite. O presente trabalho, a partir de uma perspectiva etnográfica, interpela em torno de diversos arranjos e relações que se formam por essa prática, sendo a alimentação o fundamento delas. Criar é sinônimo de alimentar e, para isso, se forma uma rede de colaborações entre os criadores, alicerçada por princípios morais. O que os animais fazem nessa relação de trabalho se torna então um ponto central. A criação não se explica por uma abordagem unicamente das ações humanas, mas por meio de práticas interligadas ao mundo dos animais e seu desejo de conviverem e colaborarem com o trabalho. O princípio de vivo, como bem ressaltou Ferret (2016), é vital para pensar a ação. Na criação, ele gera vínculos e interações que formam a própria identidade do criador entrelaçado pelo campo relacional com os animais a partir de uma intersecção de mundos. Tocar o gado acarreta num novo vir a ser (Despret, 2004) pelas aprendizagens vivenciadas com outros criadores e com os animais. Nestes meandros, esse trabalho se embasou pela corrente teórica antropologia da técnica para pensar a criação, particularmente, pela domesticação, ou seja, a relação humano-animal enquanto elemento fundamental da técnica, enquanto relação social.

Abstract: Cattle breeding in Piancó, in the State of Paraíba, has as one of its main features the relationship with the environment and has been undergoing transformations due to the opening of the market for milk. The present work, from an ethnographic perspective, questions around the various arrangements and relationships that are formed by this practice, with food as their foundation. Creating is synonymous with food and, for that, a network of collaborations between creators is formed, based on moral principles. What animals do in this working relationship then becomes a central point. Creation is not explained by an approach solely to human actions, but through practices linked to the world of animals and their desire to live and collaborate with work. The principle of living, as Ferret (2016) pointed out, is vital to think about action. In creation, it generates bonds and interactions that form the creator's own identity intertwined by the relational field with animals from an intersection of worlds. Touching cattle leads to a new becoming (Despret, 2004) due to the learning experiences experienced with other breeders and animals. In these meanders, this work was based on the theoretical current of the anthropology of the technique to think about creation, particularly, by domestication, that is, the human-animal relationship as a fundamental element of the technique as a social relationship.