Investigação sobre o papel da próstata como fonte de estimulação inflamatória na espondilite anquilosante e espondiloartrite axial

Abstract

Objetivo: Investigar a hipótese de que a prostatite crônica, de causa infecciosa ou estéril, está presente com frequência aumentada na espondilite anquilosante (EA) e deste modo possa atuar como fonte de estimulação (?gatilho?) para a resposta inflamatória nesta doença. Método: Estudo transversal em pacientes masculinos portadores de EA e controles (não-EA). Foram realizados: verificação de sintomas de prostatite com versões validadas dos questionários NIH-CPSI (National Institutes of Health Chronic Prostatitis Symptom Index) e IPSS (International Prostate Symptom Score); avaliação de atividade da EA com o BASDAI (Bath Ankylosing Spondylitis Disease Activity Index) e ASDAS (Ankylosing Spondylitis Disease Activity Score), baseado em proteína C reativa (PCR); exame físico prostático; exames séricos PCR, velocidade de hemossedimentação (VHS), antígeno prostático específico (PSA) e ácido úrico; exames em amostras de urina coletadas antes e após massagem prostática (teste pré- e pós-massagem) com contagem de leucócitos, cultura, pesquisa de Chlamydia Trachomatis por reação em cadeia da polimerase, concentrações de ácido úrico, PSA e tetraidrobiopterina (BH4). Resultados: Quarenta e cinco participantes foram incluídos, sendo 25 portadores de EA e 20 controles não-EA. Prostatite crônica ocorreu em 12 casos de EA (48,0%). Não houve diferença significativa na frequência de prostatite crônica entre os grupos EA e não-EA, nem nos escores médios de NIH-CPSI e IPSS. Não houve diferença significativa nas contagens de leucócitos, culturas e concentração de ácido úrico urinárias antes e após massagem prostática em quaisquer grupos. As pesquisas para Chlamydia Trachomatis foram negativas em todos os casos. A concentração de PSA urinário nas amostras de urina pós-massagem foi significativamente superior no grupo portador de prostatite crônica em comparação ao grupo sem prostatite. A concentração de BH4 urinário foi significativamente superior no grupo EA tanto nas amostras pré-massagem quanto pós-massagem. Conclusão: Prostatite crônica é comum em pacientes com EA, ocorrendo em cerca de metade dos casos. Nesta população, não se encontrou evidência de que Chlamydia trachomatis ou ácido úrico tenham papel etiológico relevante. PSA urinário pós-massagem pode ser um marcador de prostatite crônica. BH4 urinário pode ser um marcador de espondilite anquilosante.

Abstract: Objective: To investigate the hypothesis that chronic prostatitis, infectious or sterile, is frequently present in ankylosing spondylitis (AS) and thus may act as a source of stimulation (?trigger?) for the inflammatory response in this disease. Method: Cross-sectional study in male patients with AS and controls (non-AS). Prostatitis symptoms were verified with validated versions of the National Institutes of Health Chronic Prostatitis Symptom Index (NIH-CPSI) and International Prostate Symptom Score (IPSS) questionnaires; assessment of AS activity with Bath Ankylosing Spondylitis Disease Activity Index (BASDAI) and C-reactive protein (CRP)-based Ankylosing Spondylitis Disease Activity Score (ASDAS); prostate physical examination; serum CRP, ESR (erythrocyte sedimentation rate), PSA (prostate specific antigen) and uric acid tests; tests on urine samples collected before and after prostate massage (pre- and post-massage test) with leukocyte count, culture, Chlamydia trachomatis polymerase chain reaction essays, uric acid, PSA and BH4 (tetrahydrobiopterin) concentrations. Results: Forty-five participants were included, 25 with AS and 20 non-AS controls. Chronic prostatitis occurred in 12 cases of AS (48.0%). There was no significant difference in the frequency of chronic prostatitis between AS and non-AS groups, nor in the mean NIH-CPSI and IPSS scores. There was no significant difference in leukocyte counts, cultures and urinary uric acid concentration before and after prostate massage in any groups. Chlamydia trachomatis essays were negative in all cases. Urinary PSA concentration in post-massage urine samples was significantly higher in chronic prostatitis compared with the group without prostatitis. Urinary BH4 concentration was significantly higher in AS patients in both pre- and post-massage samples. Conclusion: Chronic prostatitis is common in AS patients, occurring in about half of the cases. In this population, no evidence was found that Chlamydia trachomatis or uric acid have a relevant etiological role. Post-massage urinary PSA may be a marker of chronic prostatitis. Urinary BH4 may be a marker of ankylosing spondylitis.