Abstract:
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Introdução: A síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) caracteriza-se por alterações inflamatórias agudas, associadas ao aumento da permeabilidade vascular pulmonar, aumento do peso pulmonar e perda do tecido aerado com consequente aumento do shunt pulmonar e hipoxemia refratária à administração de oxigênio. A recente pandemia de COVID-19 fez com que se elevassem os casos de SARA de forma abrupta, com necessidade de ventilação mecânica em grande escala, muitas vezes sobrepujando a capacidade de atendimento de pacientes graves em emergências e unidades de terapia intensiva. A mortalidade da síndrome é elevada e nos pacientes com COVID-19 chega a 50% naqueles que necessitam de ventilação mecânica. Dessa forma, métodos rápidos de ajuste da ventilação mecânica, como a utilização de PEEP-tabela ARDSnet, ganham relevância embora se saiba que a PEEP ajustada pela melhor complacência do sistema respiratório seja individualizada em relação às características mecânicas do sistema respiratório de cada paciente. A relação entre estes dois métodos de ajuste da PEEP é o objeto do presente estudo.
Objetivos: Avaliar o ajuste da PEEP em pacientes com SARA, relacionando o ajuste da PEEP pela tabela ARDSNet com o ajuste da PEEP determinada pela melhor complacência do sistema respiratório, em pacientes consecutivamente internados na UTI do hospital Nereu Ramos, em Florianópolis - Estado de Santa Catarina.
Métodos: Foi realizado um estudo fisiológico aninhado em um ensaio clínico randomizado para fazer uma análise comparativa entre PEEP- tabela ARDSNet versus PEEP ajustado pela melhor complacência em pacientes com SARA, internados na UTI do Hospital Nereu Ramos. Os critérios de inclusão foram: Pacientes maiores de idade com SARA definida conforme critérios de Berlin e que concordaram em participar do estudo. Estes foram ventilados nas primeiras 3 horas conforme o protocolo ARDSnet e, após a coleta de dados ventilatórios nessas condições basais, foram submetidos à titulação da PEEP com diminuições progressivas de PEEP a partir de 20 CmH2O, em ventilação controlada a volume e utilizando-se volume corrente de 6 ml/kg de peso predito. Após a determinação da PEEP pela melhor complacência coletou-se novamente os dados ventilatórios dos pacientes. Os dados coletados nessas duas situações foram relatados e as PEEPs correlacionadas.
Resultados: O presente estudo incluiu 38 pacientes, em sua maioria homens (55%), com idade média de 46,2 ± 2,64 anos. O volume corrente inicial médio foi de 371.35 ± 10,28 ml e a mediana da complacência inicial do sistema respiratório (Crs inicial) foi de 32 ml/cmH2O (IIQ 25%-75% 22,75 – 175). A PEEP determinada pela tabela ARDSnet foi de 11,0 ± 3,28 cmH2O e a PEEP ajustada pela melhor complacência teve valores médios de 12,24 ± 3,48 cmH2O. Nos pacientes avaliados, pós determinação da melhor PEEP, a relação inicial PaO2/FIO2 168,6 ± 9,41 melhorou para: 232,54 ± 82. A melhor DP foi em média de 13,76 ± 0,59 cmH20 e a complacência estática mediana foi de 33 ml/cmH2O (IIQ 25%-75% de 22,5 a 215). Conseguiu-se determinar uma correlação moderada entre PEEP tabela ARDSnet e PEEP da melhor complacência estática respiratória que foi de r= 0,57. Observou-se mortalidade de 40% nos pacientes estudados.
Conclusões: Houve relação moderada entre PEEP tabela-ARDSnet (baixos valores de PEEP) e a PEEP determinada pela melhor complacência do sistema respiratório. A relação PaO2/FIO2 melhorou após a determinação da PEEP pela melhor complacência do sistema respiratório, mostrando que um ajuste inicial da ventilação pode ser feito usando a PEEP tabela ARDSnet. No entanto, o uso da PEEP individualizando pela mecânica respiratória (PEEP da melhor complacência do sistema respiratório) determinou melhor oxigenação. |