Análise dos escores não invasivos de fibrose hepática em pacientes com obesidade grau 2 e 3

Abstract

Introdução: O aumento da obesidade e do diabetes mellitus tipo 2 (DM2) na população mundial, assim como sua relação com doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) são inegáveis. Logo, a utilização de escores clínicos não invasivos tem se revelado uma boa maneira para avaliar a possibilidade de fibrose hepática, principalmente relacionada ao DM2. Ainda que a obesidade seja um dos grandes fatores de risco para o DM2, pouco se aborda quanto à aplicabilidade de tais escores nessa população. Objetivo: Analisar a performance dos escores para análise de fibrose hepática em pacientes com obesidade grau 2 e 3. Métodos: Foram coletadas informações para o cálculo e análise de escores a partir do prontuário dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica durante o ano de 2018, no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Calcularam-se os escores NAFLD Fibrosis Score (NFS), Fibrosis 4 (FIB-4), AST to Platelet Ratio Index, Body mass index AST/ALT Ratio Diabetes (BARD) e AST/ALT Ratio (AAR) para comparar seus valores e classificações entre pacientes com e sem diabetes, além de comparar tais valores com a classificação de esteatose hepática pela ultrassonografia abdominal. Resultados: Avaliaram-se 50 pacientes com obesidade grau 2 e 3 sendo 80% mulheres, média de idade de 44,8 ± 9,2 anos e 38% portadores de DM2. Na análise dos valores absolutos dos escores entre os pacientes portadores (D) ou não de DM2 (SD), apenas o NFS (0,7 ± 1,0 vs -0,7 ± 1,1, p < 0,01) e o BARD (2,1 ± 0,5 vs 1,5 ± 0,9, p < 0,01) demostraram diferença estatisticamente significativa. Após categorização dos escores entre presença ou ausência de fibrose avançada (F3-F4), somente o NFS (p = 0,041) e o BARD (p < 0,01) apresentaram diferença estatística. O primeiro sugeriu F3-F4 em seis (31,6%) pacientes do grupo D e quatro (12,9%) do grupo SD, além de excluir fibrose avançada em sete (22,6%) pacientes SD e classificar como indeterminados 13 (68,4%) D e 20 (64,5%) SD, enquanto o BARD excluiu fibrose avançada em 24 (77,4%) do grupo SD e sugeriu F3-F4 em 19 (100%) pacientes do grupo D e sete (22,6%) do grupo SD. De acordo com os achados ultrassonográficos, nenhum escore evidenciou diferença estatisticamente significativa. Conclusões: A análise dos dados do estudo evidenciou grande heterogeneidade entre os resultados dos diferentes escores não invasivos de fibrose hepática, e também dos achados ultrassonográficos nos pacientes com obesidade grau 2 e 3. Mais estudos são necessários para identificar qual melhor método de triagem de NASH em pacientes obesos e, a partir deles, definir as melhores estratégias nas diretrizes atuais.

Introduction: The increase in obesity and type 2 diabetes mellitus (DM2) in the world population, as well as its relationship with non-alcoholic fatty liver disease (NAFLD) are undeniable. Therefore, the use of non-invasive clinical scores has proved to be a good way to assess the possibility of liver fibrosis, mainly related to DM2. Although obesity is one of the major risk factors for DM2, little is addressed about the applicability of such scores in this population. Objective: To analyze the performance of scores for the analysis of liver fibrosis in patients with grade 2 and 3 obesity. Methods: Data for the calculation and analysis of scores were collected from the medical records of patients undergoing bariatric surgery during 2018, at the University Hospital of the Federal University of Santa Catarina. NAFLD Fibrosis Score (NFS), Fibrosis 4 (FIB-4), AST to Platelet Ratio Index, Body mass index AST / ALT Ratio Diabetes (BARD) and AST / ALT Ratio (AAR) were calculated to compare their values and classifications between patients with and without diabetes, and to compare these values with the classification of hepatic steatosis by abdominal ultrasound. Results: 50 patients with grade 2 and 3 obesity were evaluated, 80% of them were women, with a mean age of 44,8 ± 9,2 years and 38% with DM2. In the analysis of the absolute values of the scores between patients with (D) or without DM2 (ND), only NFS (0,7 ± 1.0 vs -0,7 ± 1,1, p < 0,01) and BARD (2,1 ± 0,5 vs 1,5 ± 0,9, p < 0,01) showed a statistically significant difference. After categorizing the scores between the presence or absence of advanced fibrosis (F3-F4), only NFS (p = 0,041) and BARD (p < 0,01) showed a statistical difference. The first suggested F3-F4 in six (31,6%) patients in group D and four (12,9%) in group ND, in addition to excluding advanced fibrosis in seven (22,6%) patients ND and classifying as undetermined 13 (68, 4%) D and 20 (64.5%) ND, while BARD excluded advanced fibrosis in 24 (77,4%) of the ND group and suggested F3-F4 in 19 (100%) patients in group D and seven (22,6 %) of the ND group. According to the ultrasound findings, no score showed a statistically significant difference. Conclusions: The analysis of the study data showed great heterogeneity in the results of the different non-invasive liver fibrosis scores, and of the ultrasound findings in patients with grade 2 and 3 obesity. More studies are needed to identify which method of screening for NASH in obese patients and , from them, define the best strategies in the current guidelines.