A trajetória escolar da Geometria Analítica no ensino secundário brasileiro: constituição e funcionamento em tempos da Reforma Francisco Campos, 1931-1942

Abstract

Esta pesquisa teve como objetivo analisar a trajetória escolar da Geometria Analítica no currículo de Matemática do ensino secundário brasileiro em tempos da Reforma Francisco Campos, no período de 1931 a 1942, visando a compreender sua constituição e seu funcionamento. A lacuna na história da trajetória da Geometria Analítica no período histórico definido justifica a investigação, assim como o fato de que tal trajeto foi escopo de apenas uma pesquisa desenvolvida no Brasil. A presente pesquisa teve a História das Disciplinas Escolares (HDE), difundida por André Chervel, como fundamentação teórico-metodológica. Para tanto, procedeu-se a elaboração do inventário dos documentos oficiais promulgados pelo governo, no período supracitado, e a seleção dos manuais editados entre 1936 e 1942 que abrangeram Geometria Analítica; investigação dos pilares da HDE (finalidades do ensino escolar, prática docente e aculturação escolar dos alunos); investigação da presença de elementos que constituem uma disciplina escolar (ensino de exposição, exercícios, práticas de incitação e de motivação e aparelho docimológico); e verificação da ocorrência do fenômeno de vulgata nos manuais. Observou-se, então, que o ensino de Geometria Analítica foi imposto como um curso preparatório no currículo de Matemática do ensino secundário brasileiro, consequentemente, a finalidade do ensino escolar era preparar os alunos para o exame das faculdades de Medicina, Farmácia, Odontologia, Engenharia e Arquitetura. A investigação da prática docente apresentou um rol de conteúdos para o ensino de Geometria Analítica e, a partir dos métodos, constatou-se que o ensino desta contém todos os constituintes de uma disciplina escolar. A verificação do fenômeno de vulgata comprovou que o conjunto de manuais de ensino selecionados em tempos da Reforma Francisco Campos caracteriza-se como uma vulgata escolar. Além disso, a investigação da aculturação escolar dos alunos possibilitou estudar a natureza dos conhecimentos a serem adquiridos e reiterou que a cultura escolar ofertada ao aluno estava ancorada nas finalidades do ensino escolar. Diante disso, temos que a constituição da Geometria Analítica aconteceu pela combinação, em proporções variáveis, de todos os elementos que constituem uma disciplina escolar. Do mesmo modo, seu funcionamento sucedeu em estreita colaboração com os constituintes e relacionado diretamente com as finalidades. Portanto, a Geometria Analítica passou a figurar no currículo de Matemática do ensino secundário brasileiro em tempos da Reforma Francisco Campos, de 1931 a 1942, como uma disciplina escolar.