O sofrimento mental de profissionais de enfermagem em um centro de oncologia pediátrica: uma abordagem ergonômica

Abstract

Os profissionais de enfermagem convivem diariamente em um ambiente estressante, submetidos a uma atmosfera de tensão, sobrecarga física e emocional. O estresse no trabalho pode predispor a doenças que irão resultar em comprometimento da qualidade do trabalho, insatisfação profissional, doenças ocupacionais, dentre outros. Objetivo: investigar os motivos de sofrimento mental relacionados ao trabalho e as estratégias de enfrentamento adotadas por profissionais de enfermagem em um centro de oncologia pediátrica. A motivação desta pesquisa se deu depois de conhecer o trabalho de uma enfermeira que se encontrava afastada do trabalho com diagnóstico de Depressão e Ansiedade Generalizada, por meio de uma AET (Análise Ergonômica do Trabalho). Essa análise permitiu constatar que havia uma demanda associada ao problema do adoecimento mental em decorrência da forte sobrecarga emocional existente naquele tipo de trabalho, e que outros (as) profissionais também apresentavam casos semelhantes, necessitando, assim, de uma análise mais abrangente, desta vez no coletivo do trabalho. Metodologia: trata de um estudo de caso que é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo dos fatos objetos de investigação, qualitativo, descritivo e exploratório. Consistiu-se inicialmente de um levantamento bibliográfico por meio de uma RSL (Revisão Sistemática de Literatura), da realização de uma Análise Ergonômica do Trabalho AET, uma Análise Coletiva do Trabalho (ACT), optando-se pela metodologia de análise do discurso de Bardin para tratamento dos dados. Foram aplicados também os questionários de Maslach burnout inventory (MBI) e o questionário de sofrimento mental Self-Reporting Questionnaire (SRQ- 20) para a identificação dos níveis de burnout e sofrimento mental dos participantes respectivamente. Resultados: A Análise Ergonômica do Trabalho AET permitiu observar que fatores interpessoais nas equipes influenciavam negativamente o ambiente de trabalho e abalavam emocionalmente a profissional que teve o seu trabalho analisado: falta de comprometimento, companheirismo, baixo desempenho, constantes intercorrências, as difíceis condições de execução de algumas atividades, a dor e o sofrimento do paciente e dos familiares. Sobre a Análise Coletiva do Trabalho ACT, verificou-se que somados aos problemas observados na AET, outras questões foram elencadas como os principais motivos de sofrimento mental no setor: sobrecarga física e mental, problemas com a família, saúde própria ou de familiar, tipo de trabalho, violência horizontal, falta de adaptação ao trabalho, booling e ruídos das bombas infusoras. Sobre os questionários, constatou-se que os níveis médios de burnout da equipe estavam em 51,83%, considerados em fase de início do burnout e que 11 (onze) de 29 (vinte e nove) ou 38% dos respondentes apresentaram índices acima de 7 (sete), que é considerado como sofrimento mental. Estratégias de enfrentamento são adotadas a fim de evitar o envolvimento emocional e os conflitos. O remanejamento de alguns profissionais, mudanças no processo de triagem e internação permitiram distribuir melhor os pacientes e reduzir o número de internações. Conclusão: O envolvimento emocional ao se conviver com o sofrimento e as dores das crianças e familiares foi considerado como o principal motivo de sofrimento para os profissionais. Outros fatores como a sobrecarga de serviço, os problemas de relacionamentos, a violência horizontal e do Bulling tornam o ambiente mais penoso. Assim, o apoio psicológico no setor se faz necessário, a observação dos casos de estresse, ansiedade e baixo rendimento devem ser incentivados e como propostas de novos estudos propõem-se questões como os problemas de relacionamento interpessoal, incentivo ao aprofundamento da questão do preparo na formação do enfermeiro e do técnico no enfrentamento da morte e luto e o caso das inconvenientes bombas infusoras.

Abstract: Nursing professionals live daily in a stressful environment, subjected to an atmosphere of tension, physical and emotional overload. Stress at work can predispose to diseases that can result in compromised quality of work, job dissatisfaction, occupational diseases, among others. Objective: to investigate the reasons for work-related mental suffering and coping strategies adopted by nursing professionals in a pediatric oncology center. The motivation of this research was after knowing the work of a nurse who was away from work diagnosed with Depression and Generalized Anxiety, through an AET (Ergonomic Work Analysis). This analysis showed that there was a demand associated with the problem of mental illness due to the strong emotional overload existing in that type of work, and that other professionals also had similar cases, thus requiring a more comprehensive analysis, this time in the study collective work. Methodology: It is a case study that is characterized by the deep and exhaustive study of the facts that are the objects of investigation, qualitative, descriptive and exploratory. Initially, it consisted of a bibliographic survey by means of a Systematic Literature Review (RSL), an AET Ergonomic Work Analysis, a Collective Work Analysis (ACT), and the Bardin discourse analysis methodology for data processing. Maslach burnout inventory (MBI) and Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) were also applied to identify participants' burnout and mental distress levels, respectively. Results: The work of the oncology center nursing professional is quite complex and develops collectively, so several subjective aspects are involved. The Ergonomic Work Analysis EWA allowed us to observe that interpersonal factors in teams such as lack of commitment, companionship and poor performance caused stress and tension in the staff, while the high number of complications and the difficult conditions of execution of some activities, besides living with the pain and suffering of the patient and family member shook them emotionally. Regarding the Collective Analysis of the CT Work, it was found that in addition to the problems observed in the EWA, other issues were listed as the main reasons for mental suffering in the sector: physical and mental overload, problems with the family, own or family health, type of work, horizontal violence, lack of adaptation to work, booling and noise from infusion pumps. Regarding the questionnaires, it was found that the average levels of burnout in the team were 51.83%, considered to be in the beginning stage of burnout and that 11 (eleven) out of 29 (twentynine) or 38% of the respondents had indexes above 7 (seven), which is considered as mental suffering. The relocation of some professionals, changes in the screening and hospitalization process allowed better distribution of patients and reduced the number of hospitalizations. Conclusion: Emotional involvement when living with the suffering and pain of children and family members was considered as the main reason for suffering for professionals. Other factors such as service overload, relationship problems, horizontal violence and Bulling make the environment more painful. Other factors such as service overload, relationship problems, horizontal violence and Bulling make the environment more painful. Thus, psychological support in the sector is necessary, observation of cases of stress, anxiety and low performance should be encouraged and as proposals for new studies, questions such as interpersonal relationship problems are proposed, encouraging the deepening of the issue of preparation in training of nurses and technicians to face death and grief and the case of inconvenient infusion pumps.