Cuidado à pessoa com comportamento suicida na atenção primária à saúde em um município catarinense

Abstract

A organização de Rede adotada pelo Sistema Único de Saúde recomenda integração, articulação e efetivação dos serviços na oferta do cuidado longitudinal, de qualidade, responsável, humanizado e integral. Atenção Primária à Saúde possui valor estratégico no cuidado a pessoa com comportamento suicida pelo acesso e no cuidado compartilhado. A gestão do cuidado demanda conhecimento técnico-científico e sensibilidade moral para a compreensão das situações de vulnerabilidade constituindo desafio para os profissionais da atenção primária à saúde na oferta do cuidado integral à pessoa com comportamento suicida. Trata-se de estudo qualitativo, realizado por entrevista com 19 profissionais de nível superior atuantes na Atenção Primária à Saúde de um município catarinense. Teve como objetivos analisar as produções científicas relativas ao comportamento suicida na atenção primária à saúde; descrever como se dá a rede de cuidado prestado à pessoa com comportamento suicida na atenção primária à saúde de um município catarinense, na perspectiva dos profissionais de saúde; e analisar a atuação dos profissionais da atenção primária à saúde de um município catarinense sobre o comportamento suicida, na perspectiva conceitual da vulnerabilidade e da sensibilidade moral. Os dados foram organizados com auxílio do software ATLAS.ti 7.5.6 e analisados com base na análise de conteúdo. Os resultados mostraram que a pessoa com comportamento suicida acessa a rede principalmente pelo acolhimento. Os entrevistados apresentaram perspectiva ampliada quanto à multicausalidade e manifestações do comportamento suicida. A abordagem profissional somada à resposta das instituições e a coparticipação da família/sociedade no processo de cuidado podem romper, gerar, perpetuar e transformar vulnerabilidades. Por sua vez, uma escuta acolhedora e a atuação multiprofissional contribuem para o diagnóstico situacional e avaliação/formulação do risco de suicídio, priorizando as ações, definindo manejo e fluxo na rede. Dentre as barreiras identificadas estão: identificação do comportamento suicida não verbalizado; dificuldades de acesso/articulação dos serviços; subnotificação; ausência de matriciamento; sobrecarga de trabalho; incipiência nas ações de promoção/prevenção/educação e grupos terapêuticos. Tais barreiras afirmam descompasso entre oferta e demanda em saúde mental, frágil integração entre os serviços e dificuldades de acesso à rede, realidade que possui potencial transformador considerando diretrizes terapêuticas e políticas indutoras elaboradas localmente e colaborada globalmente. Ainda, a incompatível infraestrutura e oferta de ações em saúde representa posição contrária ao objetivo de romper com as vulnerabilidades envoltas à pessoa com comportamento suicida. Concluiu-se que a atenção ao comportamento suicida necessita de uma rede estruturada, com capacidade técnica de avaliação e cuidado acolhedor, que invista na Educação Permanente e inclua a sociedade em seus debates para a organização coletiva e formulação de Políticas Públicas Municipais de Saúde Mental. O desenvolvimento da sensibilidade moral pelos profissionais tem o potencial de impulsionar inovação nas ações e a busca por recursos que possam transpor barreiras caminhariam em direção à defesa dos direitos da pessoa em sofrimento, ao rompimento das vulnerabilidades e a amenização do sofrimento profissional no processo de cuidar.