Mulheres em Mujeres: um estudo interseccional dos sentidos de gênero produzidos pela revista cubana

Abstract

Nessa investigação são analisados os sentidos produzidos sobre as mulheres pela revista cubana Mujeres, no período de 2010-2015. O estudo encontra sustento nas perspectivas pós-estruturalistas e pós-coloniais para o entendimento e a compreensão do processo de ressignificação das Mulheres enquanto sujeitos políticos e categoria de análise dos estudos feministas. Nesse sentido são centrais as contribuições trazidas pelo feminismo negro e a teoria da interseccionalidade para o entendimento de uma noção plural, diversa e localizada das identidades do ?ser mulher?, ao entendê-las como posições de sujeito que são impactadas simultaneamente por múltiplos eixos de opressão/privilégio, os quais condicionam o seu posicionamento singular nas esferas sociais. Esses postulados conduzem ao mapeamento das compreensões sobre as mulheres no contexto cubano em diferentes fases históricas e sua interrelação com as práticas discursivas, particularmente as jornalísticas. Esse percurso, que faz um maior aprofundamento no período revolucionário e nas políticas estatais de emancipação feminina, permite compreender o processo de amadurecimento e cristalização dos mapas de significados em torno da feminilidade em Cuba, cenário onde operam e ganham significados as práticas discursivas. Considerando as singularidades dessas construções culturais, aprofunda-se no papel da imprensa como instância de legitimação e de tensionamento dos modelos de feminilidade, fazendo destaque para as contribuições da revista Mujeres como única mídia orientada às cubanas no período revolucionário. A pesquisa visa validar a hipótese de que os sentidos produzidos sobre as mulheres nas narrativas da revista reproduzem uma noção universal e essencialista das identidades de gênero. Para isso, desenhou-se uma estratégia metodológica ad hoc de orientação qualitativa. A partir desse mecanismo de interpretação se aborda o tema como eixo articulador e dinamizador de sentidos no jornalismo de revista. Também se considera como o discurso jornalístico apela à recriação de cenografias que validam a credibilidade e a veracidade do dito que, ao mesmo tempo, condicionam as narrativas a validá-las ao longo do corpo discursivo. Isso conduz a identificar e tensionar as principais unidades de sentidos mobilizadas para dar conta das realidades e experiências das cubanas, contribuindo para a caraterização das posições de sujeito desde onde são interpeladas. A pesquisa desvenda como a revista Mujeres tem experimentado perda de seu potencial desestabilizador das relações de desigualdade que impactam sobre o cotidiano das cubanas, aspecto que incide não apenas na ausência de um posicionamento crítico e político, mas também no apagamento de formas diversas do ?ser mulher? em Cuba.<br>

Abstract: This research analyzes the senses produced on women by the Cuban magazine ?Mujeres? in the period 2010-2015. The study finds support in the poststructuralist and postcolonial perspectives for the perception and the understanding of the process of re-signification of women as political subjects and categories of analysis of feminist studies. In this sense, the contributions brought by black feminism and the theory of intersectionality are central to the understanding of a plural, diverse and localized notion of the identities of ?being a woman?, upon understanding them as subject positions that are simultaneously impacted by multiple axes of oppression/privilege, which condition their unique positioning in the social spheres. These postulates lead to the mapping of perceptions of women in the Cuban context in different historical periods and their interrelation with discursive practices, particularly the journalistic practices. Such a course, which goes deeper into the revolutionary period and the state policies of female emancipation, allows us to understand the process of maturation and crystallization of the meaning maps around femininity in Cuba, a scenario where discursive practices operate and gain meaning. Considering the singularities of these cultural constructions, the study deepens the role of the press in the legitimation and strengthening of these models of femininity, a stage where it is highlighted the contributions of ?Mujeres? magazine as the only Cuban-oriented media in the revolutionary period. In order to identify the meanings that the journalistic discourse in ?Mujeres? produces on women, the research aims at validating the hypothesis that the meanings produced on women in the narratives of the Cuban magazine reproduce a universal and essentialist notion of gender identities. For such, an ad hoc methodological strategy of qualitative orientation was designed. It addresses the theme as the articulating and dynamizing axis of magazine journalism. The study also considers how journalistic discourse calls for the re-creation of scenographies that validate the credibility and veracity of the statement that, at the same time, condition the narratives to validate them along the discursive body. This leads to the identification and strengthening of the main units of meaning mobilized so as to present an account of the Cuban realities and experiences, thus contributing to the characterization of the subject positions from where they are summoned. The research reveals how ?Mujeres? magazine has experienced a loss of its potential questioning of the inequality relations that still affect the daily lives of women in Cuba, an aspect that focuses not only on the absence of a critical and political positioning, but also on the erasure of the various ways of ?being a woman? in Cuba.