A relação entre distúrbio do processamento auditivo (central) e as dificuldades de leitura

Abstract

A presente dissertação busca discutir as relações entre Distúrbio do Processamento Auditivo (Central) e dificuldades de leitura e escrita, traçando, para isso, um diálogo entre duas distintas áreas da Fonoaudiologia: a Audiologia e a Linguagem. Para isso, se partirá da concepção de neurolinguística discursiva e seus fundamentos, ressaltando a forma como os conceitos de sujeito, significação, interação e cognição são socialmente construídos. Critica-se a visão majoritária que relaciona quase que automaticamente as dificuldades de linguagem escrita com um possível quadro de PCA(C). Os diversos estudos que identificaram que as inabilidades auditivas poderiam ter forte influência nas dificuldades de escrita e leitura, mais recentemente vêm sendo questionados por autores que indagam a sensibilidade dos testes utilizados às dificuldades linguístico-cognitivas apresentadas por sujeitos com queixa de linguagem escrita. Trata, ainda, de duas hipóteses concorrentes que procuram explicar a natureza do DPA(c): a bottom-down, que credita o distúrbio a prejuízos sensoriais no processamento de sinais auditivos; a top-down, que tenta demonstrar que as dificuldades aparecem por influência de prejuízos em funções superiores, como cognição, atenção e linguagem. Constata-se ser recorrente a busca de explicações orgânicas para dificuldades na aquisição da linguagem escrita. Há, no entanto, fortes indícios de que as habilidades linguísticas não sejam resultado direto do funcionamento da via periférica. Nesse sentido, apurou-se que as dificuldades de leitura e escrita apresentadas por escolares não parecem estar diretamente ligadas às habilidades auditivas. Isso porque, ao contrário da linha majoritária, estudos internacionais questionando a própria definição e avaliação do DPA(C) apontam que nem as habilidades de processamento auditivo temporal, nem as de consciência fonológica são determinantes para aquisição da leitura. Enfim, esse trabalho também destaca que as dificuldades de compreensão leitora decorrem, muitas vezes, de lacunas nos conhecimentos linguísticos ou de mundo e da falta de prática de leitura.

Abstract: The present dissertation aims to discuss the relationship between Auditory Processing Disorder (Central) and reading and writing difficulties, drawing, for this, a dialogue between two distinct areas of Speech Therapy: Audiology and Linguistic. For this, it will start from the conception of discursive neurolinguistics and its foundations, highlighting how the concepts of subject, meaning, interaction and cognition are socially constructed. We criticize the majority view that almost automatically relates the difficulties of written language with a possible APC (C). The various studies that identified that auditory disabilities could have a strong influence on writing and reading difficulties are more recently questioned by authors who ask the sensitivity of the tests used to the linguistic-cognitive difficulties presented by subjects with written language complaints. It also discusses two competing hypotheses that seek to explain the nature of APC (C): the bottom-down, which credits the disturbance to sensory impairments in the processing of auditory signals; The top-down, which attempts to demonstrate that difficulties arise through influence of impairments in higher functions such as cognition, attention, and language. The search for organic explanations for difficulties in the acquisition of written language is recurrent. There are, however, strong indications that language skills are not a direct result of peripheral pathway functioning. In this sense, it was found that the difficulties of reading and writing presented by schoolchildren do not seem to be directly related to hearing abilities. This is because, unlike the majority line, international studies questioning the very definition and evaluation of APD (C) point out that neither the temporal auditory processing nor the phonological awareness abilities are determinant for reading acquisition. Finally, this work also highlights that the difficulties of reading comprehension often derive from gaps in linguistic or world knowledge and lack of reading practice.