Altas-rizoma: relatos de experiências e trajetórias sobre a atenção psicossocial e a desinstitucionalização

Abstract

A presente dissertação pretende lançar um olhar antropológico sobre o campo da saúde mental. Desse modo, dá-se privilégio no trabalho de campo às falas e às práticas de pessoas que apresentam longa trajetória na área de saúde referida, procurando enfatizar a maneira como se produziram as suas ?altas? em sua última experiência de vinculação com um Centro de Atenção Psicossocial da região sul do Brasil. Assim, a pesquisa viu-se interpelada por uma experiência etnográfica que tensionou as práticas de atenção psicossocial no CAPS em questão e a desinstitucionalização como princípio basilar na reestruturação da saúde mental a partir da reforma psiquiátrica. Os relatos e práticas dessas pessoas, questionaram a possibilidade de um cuidado psicossocial que não se restrinja à identificação e tratamento do transtorno de saúde mental, mas observe esse sofrimento como inseparável da complexidade da existência humana nas diferentes dimensões que a compõe. O acompanhamento dos relatos de experiência e das trajetórias endossaram o argumento que expõe a heterogeneidade e as tensões atinentes ao campo da saúde mental. Elaborei um conceito ? Alta-Rizoma ? a fim de perseguir a esteira da inquietação de parte de meus interlocutores, qual seja, a do desejo de permanecer em sua casa, ou, de sair de uma situação de abandono social e familiar. Assim, as ?altas? do CAPS, na perspectiva rizomática, expuseram este processo como constituído pelos mais distintos elementos: relações com os profissionais do serviço de saúde em questão; relações com outro serviço de saúde mental da rede municipal; as potencialidades e problemáticas nas relações familiares; e uma história de longo período de isolamento/internação/abandono. Ainda, analisou-se a ideia da desinstitucionalização tendo em vista a proximidade do CAPS envolvido na pesquisa com sua vinculação a uma instituição hospitalar. Ou seja, avaliou-se em que medida a recente formulação da política nacional de saúde mental de 2017 pode se relacionar com uma recrudescência conservadora no campo da saúde mental, visto que essa formulação passou novamente a priorizar recursos de origem federal par leitos hospitalares em detrimento do investimento no estabelecimento de novos Centros de Atenção Psicossocial. Assim, esboçam-se relações entre práticas de saúde, tanto no âmbito do serviço substitutivo, quanto na sua atuação junto às famílias, no que elas revelam de uma economia moral que destaca a vida biológica, ou, em outras palavras, o transtorno de saúde mental lido a partir de uma perspectiva biológica.<br>

Abstract : This dissertation intends to implement an anthropological view on the field of mental health. In this sense, the speeches and practices of people who have a long history in the referred health area are given privilege in the fieldwork, trying to emphasize the way in which their \"discharges\" took place in their last experience of binding within a Center for Psychosocial Care, in the south of Brazil. Thus, the research was challenged by an ethnographic experience that stressed the practices of psychosocial attention in this particular CAPS and the deinstitutionalization as a key psychiatric reform principle in the restructuring of mental health. The reports and practices of these people have questioned the possibility of a psychosocial care that is not restricted to the identification and treatment of mental health disorder, but that observes this suffering as inseparable from the complexity of human existence in the different dimensions that compose it. The monitoring of the histories and experience reports endorsed the argument that exposes the heterogeneity and the stresses related to the mental health area. I elaborated a concept - Alta-Rizoma - in order to follow the path of restlessness on the part of my interlocutors, which is their desire to stay in their home or to leave a situation of social and family abandonment. Therefore, the \"discharges\" of the CAPS, in the rhizomatic perspective, exposed this process as constituted by the most distinct elements: relations with the health professionals; relations with another mental health service of the municipal network; the potentialities and problems in family relationships; and a long history of isolation / hospitalization / abandonment. Also, the idea of deinstitutionalization in regard to the proximity of the CAPS involved in the research with its connections to a hospital institution was analyzed. That is, the extent in which the recent reformulation of the national mental health policy of 2017 may be related to a conservative recrudescence in the field of mental health was evaluated, since this reformulation has once again prioritized federal resources for hospital beds to the detriment of investment in the establishment of new Centers for Psychosocial Care. Thus, relations are outlined among health practices, both within the scope of the substitutive service and in their work with families, in which they reveal a moral economy that highlights biological life, or in other words, health disorder from a biological perspective.