Influência do nível apical do preparo mecânico na morfologia do forame e do canal radicular

Abstract

Diferentes comprimentos de trabalho (CTs) vêm sendo indicados para o preparo mecânico do canal radicular. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do preparo mecânico realizado em três diferentes CTs, através dos movimentos rotatório e reciprocante, na morfologia do forame apical e na morfologia do canal radicular. Antes e após o preparo, trinta raízes mesiais de molares inferiores foram escaneadas por microtomografia computadorizada (micro-CT) e os sessenta forames apicais dos canais mésio-vestibulares e mésio-linguais foram fotografados por estereomicroscópio. Os espécimes foram divididos em três grupos (n = 20) de acordo com o CT: grupo G-1: CT = comprimento do dente (CD) - 1 mm; grupo G0: CT = CD; e grupo G+1: CT = CD + 1mm. Logo após, cada grupo foi novamente divididos em 2 subgrupos (n = 10) de acordo com a intervenção foraminal realizada: G-1: patência de Buchanan (G-1_PB) e limpeza foraminal manual (G-1_LM); G0: alargamento foraminal rotatório (G0_Rot) e alargamento foraminal reciprocante (G0_Rec); e G+1: alargamento foraminal rotatório (G+1_Rot) e alargamento foraminal reciprocante (G+1_Rec). A patência apical foi obtida previamente ao preparo em todos os espécimes e mantida a cada troca de instrumento por meio de lima K #10 (Dentsply-Maillefer) utilizada até o CD. Os canais dos espécimes dos grupos G-1, G0 Rec e G+1 Rec foram instrumentados até o CT com a lima Reciproc R25 (VDW) e os dos grupos G0 Rot e G+1 Rot até a lima Prodesign S #25/.08 (Easy). Nos espécimes do grupo G-1_PB a patência apical foi a única intervenção foraminal realizada. A limpeza foraminal manual foi realizada nos espécimes do G-1_LM através do uso de uma lima Flexofile (FF) (Dentsply Maillefer) que se ajustou no CD e de mais um instrumento de calibre imediatamente superior, denominado instrumento foraminal (IF). Neste estudo o IF variou da lima FF #20 à #30. Através das imagens do forame apical obtidas por estereomicroscópio foram avaliados em relação ao forame apical as alterações dimensionais de área e perímetro, a extensão de parede cementária não instrumentada (PNI) e o desvio do forame. Por meio das imagens de micro-CT foram avaliados em relação ao canal radicular o seu transporte e a centralização do preparo ao nível de 1, 3 e 5 mm do forame. O teste ANOVA para medidas repetidas foi utilizado para comparar os dados de área e perímetro foraminal antes e após o preparo e o teste de Bonferroni para identificação das diferenças encontradas. Para todas as demais variáveis foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis para comparação dos dados e o post hoc de Dunn para identificação das diferenças encontradas. Para todos os testes foi estabelecido um nível de significância de 5%. A patência apical não promoveu alterações significantes das dimensões foraminais, enquanto a limpeza foraminal manual ampliou estatisticamente o seu perímetro. Os instrumentos utilizados nos CTs estabelecidos no forame e 1 mm além promoveram ampliação significativa das dimensões foraminais bem como a ocorrência de desvios de sua posição original, nas duas cinemáticas empregadas. As intervenções foraminais avaliadas foram estatisticamente semelhantes em relação a extensão de PNI, com exceção à obtida pelo alargamento foraminal reciprocante realizada ao nível do forame que foi inferior à da patência apical (p < 0,05). Em relação ao transporte do canal e a centralização do preparo não foram observadas diferenças significativas entre os grupos nos níveis localizados a 1, 3 e 5 mm do forame (p > 0,05), assim como dentro do mesmo grupo não foram observadas diferenças entre os níveis (p > 0,05). O transporte do canal foi inferior a 0,12 mm em todos os grupos e a centralização do preparo variou de 0,32 a 0,74. Com as limitações deste estudo, pode-se concluir que os preparos realizados no CT estabelecido no forame apical e 1 mm além com as limas Reciproc R25 e Prodesign S #25/.08 promoveram ampliações nas dimensões foraminais com a ocorrência de desvios de sua trajetória original que resultaram numa instrumentação incompleta da parede cementária que delimita o forame. A limpeza foraminal manual demonstrou menor ampliação foraminal em relação aos preparos mecanizados e a patência apical manteve as dimensões do forame promovendo mínimo desvio. Os movimentos rotatório e reciprocante, assim como as limas utilizadas no preparo, não promoveram alterações morfológicas do canal radicular relevantes clinicamente e foram capazes de manter a anatomia apical do canal.<br>

Abstract : Different working lengths (WL) have been indicated for the mechanical preparation of the root canal. The objective of this study was to evaluate the influence of the mechanical preparation performed in three different WLs, through the rotary and reciprocating movements on the apical foramen and the root canal morphology. Before and after preparation, thirty mesial roots of lower molars were scanned by computerized microtomography (micro-CT) and the sixty apical foramen of the mesiobuccal and mesiolingual canals were photographed by stereomicroscope. The specimens were divided into three groups (n = 20) according to the WL: group G-1: WL = foramen - 1 mm; group G0: WL = foramen; and group G+1: WL = foramen + 1mm. Afterwards, each group was again divided into 2 subgroups (n = 10) according to the foraminal intervention performed: G-1: Buchanan patency (G-1_PB) and manual foraminal cleaning (G-1_LM); G0: rotary foraminal enlargement (G0_Rot) and reciprocal foraminal enlargement (G0_Rec); and G+1: rotary foraminal enlargement (G+1_Rot) and reciprocal foraminal enlargement (G+1_Rec). The apical patency was obtained prior to preparation in all specimens and maintained at each instrument change using K #10 file (Dentsply-Maillefer) used up to the foramen. The canals of the specimens of the G-1, G0_Rec and G+1_Rec groups were instrumented up to WL with the Reciproc R25 (VDW) file and the G0_Rot and G+1_Rot groups up to Prodesign S #25/.08 (Easy) file. In the specimens of group G-1_PB the apical patency was the only foraminal intervention performed. Manual foraminal cleaning was performed on the G-1_LM specimens through the use of a Flexofile (FF - Dentsply-Maillefer) file that fitted to the CD and another immediately higher-caliber instrument called the foraminal instrument (FI). In this study the FI ranged from file FF #20 to #30. Through the images of the apical foramen obtained by stereomicroscope, the dimensional changes of the area and perimeter, the extension of the non-instrumented cemental wall (NIW) and the foramen deviation were evaluated in relation to the apical foramen. By means of micro-CT images the root canal transportation and centering of the preparation were evaluated at 1, 3 and 5 mm foramen. The ANOVA test for repeated measures was used to compare the area and perimeter data before and after the preparation and the Bonferroni test to identify the differences found. For all other variables, the Kruskal-Wallis test was used to compare the data and Dunn's post hoc to identify the differences found. A significance level of 5% was established for all tests. The apical patency did not promote significant alterations of the foraminal dimensions, whereas manual foraminal cleanliness statistically widened its perimeter. The instruments used in the WLs established in the foramen and 1 mm beyond promoted a significant enlargement of the foraminal dimensions as well as the occurrence of deviations of their original position in the two kinematics employed. The foraminal interventions evaluated were statistically similar in relation to NIW extension, except for the reciprocating foraminal enlargement performed at the foramen level that was lower than the apical patency (p <0.05). In relation to canal transportation and the centralization of the preparation, no significant differences were observed between the groups at the levels located at 1, 3 and 5 mm of the foramen (p> 0.05), as well as within the same group there were no differences between levels (p> 0.05). Canal transportation was less than 0.12 mm in all groups and the centering of the preparation ranged from 0.32 to 0.74. With the limitations of this study, it can be concluded that the preparations made in the WL established in the apical foramen and 1 mm beyond with the Reciproc R25 files and Prodesign S #25/.08 promoted enlargements in the foraminal dimensions with the occurrence of deviations of its original trajectory which resulted in an incomplete instrumentation of the cement wall that delimits the foramen. Manual foraminal cleanliness showed lower foraminal enlargement in relation to mechanized preparations and the apical patency maintained the foramen size promoting minimal deviation. The rotational and reciprocating movements, as well as the files used in the preparation, did not promote clinically relevant morphological changes of the root canal and were able to maintain the apical anatomy of the canal.