Abstract:
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O poeta latino Horácio conta, em versos vivacíssimos, como o seu severo amigo Quintílio exigia rigor e disciplina daqueles que lhe pediam conselho em matéria de poesia: “Corrige, por favor, isto e aquilo”. Horácio critica os vates romanos por negligenciar o demorado trabalho da lima (limae labor et mora)[3], e lhes recomenda descartar, cortar, corrigir os versos duros e os desalinhados, emendar os obscuros e os ambíguos, suprimir de todos os “ornamentos supérfluos”.[4]
A Musa Calliope (130-150), anônimo, mármore branco,
Museu Nacional do Prado, Madrid
A recomendação é dura e detalhada e constitui uma parte importante da poética de Horácio, exposta na Epístola aos Pisones (escrita entre 14 e 10 a.C.). Um dos argumentos fundamentais dessa obra, conhecida também como Ars Poetica, é a afirmação da necessidade de volta aos estudos dos gregos, que não descuidaram, como os Romanos, da ars em favor do ingenium; que ditaram ao mundo, em poucas palavras, as regras da boa poesia. Analogamente, muitos séculos depois, Leopardi (1798-1837) repreende seus contemporâneos, os modernos, e declara a impossibilidade da poesia lírica, na modernidade, sem o recurso aos antigos, à tradição grego-latina, especialmente à grega. |