Abstract:
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Existe uma linha temporal desta epidemia. Tem sua origem num momento incerto e num lugar incerto, talvez um mercado de Wuhan, e continua com a difusão do vírus na China e depois no mundo, até chegar aqui. Uma parte da desorientação, do sentimento de aflição destas horas, deriva desta linha temporal ter sido negligenciada repetidamente.
O contágio, uma vez iniciado numa região, avança de modo semelhante ao que aconteceu ou acontecerá em outras. Não há razão evidente para não ser assim: pertencemos à mesma espécie e nossas dinâmicas sociais são idênticas, ou pelo menos afins, onde quer que seja. No entanto, em janeiro, olhando com suspeita a China, tivemos a percepção de que nada do gênero pudesse acontecer na Europa. Não nessa escala, não assim, não conosco. Por que não? Por um preconceito infundado, o preconceito do outro lugar. E porque ninguém examinava a sério a hipótese de que nós e a China estávamos na mesma linha temporal.
Mas estamos, exatamente como a França está na mesma linha temporal da Itália, e o Lazio está na mesma linha temporal da Lombardia. Se a situação não é homogênea entre esses lugares, é só porque estamos em pontos diferentes da linha, alguns mais na frente porque partiram primeiro, outros um pouco mais atrás. Mas o princípio em que deveriam se basear todas as nossas considerações é que a evolução da epidemia, em suas linhas gerais, é a mesma em todos os lugares. |