Abstract:
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A biologia contemporânea é guiada pelo pensamento evolutivo. Classicamente, a história da
biologia conta que Darwin e Wallace foram os responsáveis pela criação e justificação do
conceito de seleção natural. Porém, é importante ressaltar seu caráter histórico e coletivo,
principalmente a respeito do significado do conceito de seleção natural e seu desenvolvimento
ao longo da ciência. Como o conceito de seleção natural nasceu e desenvolvou até Darwin e
Wallace? Procurei neste trabalho construir uma narrativa com base na epistemologia de
Ludwik Fleck sobre a construção histórica do conceito de seleção natural. É na obra de
Lucrécio intitulada ‘The Rerum Natura’ que iniciamos. Lucrécio não expressa um
pensamento evolutivo, mas sim mecanicista e anti-teleológico, uma oposição direta ao
aristotelismo dominante de sua época. Lucrécio utiliza do esforço pela sobrevivência e as
extinções para explicar a adaptação de categorias de seres formados por geração espontânea,
progredindo uma escala de perfeição. Hoje, muito do que lemos no poema de Lucrécio parece
muito familiar. Tal familiaridade deriva da grande influência do texto na construção da
modernidade. Al-Jahiz, segundo alguns autores, também discute algo como uma seleção
natural. Al-Jahiz defende uma ideia de luta pela sobrevivência bastante conectada com um
raciocínio de uma cadeia alimentar, onde a condição de sobrevivência de um organismo é a
morte de outro. Todo animal precisa de alimento e, para conseguir esse alimento, precisa
muitas vezes provocar a morte de outro mais fraco ou menor. Há um enfoque, no meu
entendimento, em uma luta interespecífica, onde diferentes espécies lutam pela sobrevivência.
Através do que consegui ler e compreender entendo que há uma escassez de traduções do
árabe tanto para o inglês quanto para o espanhol e não vi um raciocínio seletivo. Com o fim
do Império Árabe no século XIII, os polos científicos se transportaram para a Europa. Por
meio do Renascimento e da Época das Luzes, grande diversidade de pensamento e sínteses
profundas do conhecimento ocorreram. Maupertuis, famoso iluminista francês, formulou, com
base no pensamento de Lucrécio, uma concepção de geração e adaptação com base na
eliminação dos inaptos. O escocês James Hutton, diferentemente dos anteriores, por meio de
sua perspectiva uniformitarista utiliza da teoria da seleção para explicar a transformação de
raças ao longo do tempo e não para explicar a origem da vida. William Charles Wells, por
outro lado, desenvolveu ideias que estavam preocupados em explicar as variações dentro da
espécie humana, utilizando um conceito próximo à seleção natural para explicar a
transformação das raças brancas e negras. Para Patrick Matthew, um catastrofista, as
mudanças são repentinas e descontínuas, uma série de catástrofes geológicas que destroem a
maior parte da vida na Terra. Os seres que sobrevivem são expostos a condições radicalmente
diferentes e adaptam-se às novas circunstâncias. Após um rápido período de adaptação, um
novo conjunto de espécies evolui para substituir as que foram extintas. Charles Darwin e
Alfred Wallace são lembrados como um grande caso de desenvolvimento conjunto, pois
ambos chegaram até a seleção natural independentemente. Há muitas questões ainda em
aberto sobre qual dos dois teria pensando e influenciado o outro, ou ainda sobre as datas das
cartas trocadas pelos dois naturalistas, entretanto, é certo que eles foram essenciais para a
síntese e divulgação do princípio da seleção natural. |