Abstract:
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Em junho de 2010, quando do falecimento do escritor português José Saramago, em seu computador, além das anotações diárias, dentre as quais, a quinze de agosto de 2009, a de que talvez ainda escreveria outro livro, estava também o arquivo dos três capítulos deste que seria seu novo romance. Inacabado, Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas foi publicado postumamente em 2014. Nas páginas do livro, porém, além do romance inacabado, constam as notas de Saramago referentes à construção do romance, as ilustrações de Günter Grass e os textos de Fernando Gómez Aguilera, Roberto Saviano e, no caso da edição publicada no Brasil, o texto de Luiz Eduardo Soares. A temática do romance aborda a problemática da indústria armamentista como fomentadora das guerras sem deixar de interpelar os cidadãos sobre a ética da responsabilidade individual diante deste cenário. Nesta pesquisa, cujo objetivo é apresentar a possibilidade de leitura de Alabardas como livro-manifesto, um Manifesto pela Paz, proponho três momentos de análise do romance que convergem para este intento. Inicialmente, busco compreendê-lo no percurso da produção literária de Saramago em diálogo com o contexto literário no qual a obra foi escrita. Em seguida, apresento uma análise da composição editorial do livro a partir dos paratextos editoriais, momento em que sobressai o caráter engajado da paratextualidade do livro. Na parte final, a postura assumida por Saramago de não dissociar, em sua trajetória literária, o escritor do cidadão fortalece o apelo antibelicista que emerge do romance. A voz de Saramago, contudo, não é a única que ressoa a partir do livro. A leitura de Alabardas como livro-manifesto se encontra ressignificada na pluralidade de vozes presentes em suas páginas em defesa da paz. |