Abstract:
|
A urbanização é uma importante causa de contaminação das zonas costeiras ao redor do
mundo, relacionada principalmente ao lançamento de efluentes sanitários em corpos hídricos.
Em Florianópolis SC, a maior parte dos efluentes domésticos tratados e não tratados são
lançados diretamente em corpos hídricos, liberando quantidades significativas de poluentes no
ambiente. Os poluentes presentes nestas misturas interagem com organismos, causando
alterações em sua fisiologia normal em diferentes níveis: molecular, celular, tecidual e
comportamental. Desta forma, a quantificação de parâmetros biológicos refletem as condições
de saúde de organismos aquáticos e do ambiente em que estão inseridos. Dentre as
metodologias mais aplicadas para biomonitoramento ambiental estão às análises
hematológicas, bioquímicas, imunológicas e genotóxicas. O presente trabalho teve como
objetivo a avaliação destes parâmetros em duas espécies de peixe (Mugil liza e Mugil
curema), como possíveis biomarcadores de impactos na Estação Ecológica de Carijós e
entorno. Os peixes foram coletados em dois locais da unidade de conservação: Estuário do
Rio Ratones, pertencente à bacia hidrográfica de Ratones e na baía de Saco Grande. Também
foi realizada uma coleta em tanques de cultivo da Universidade Federal de Santa Catarina. Ao
todo, foram realizadas 5 coletas ao longo dos meses de março a agosto de 2018, com um
número amostral ~ 10 indivíduos cada. Entre os ambientes naturais, os animais coletados na
Baia de Saco Grande apresentaram maiores variações nos parâmetros analisados relacionados
a estresse. Foram observados valores elevados de glicose, hematócrito, hemoglobina e GSH e
a redução na frequência de células de defesa em peixes da espécie Mugil liza. Os resultados
estão de acordo com trabalhos sobre qualidade de água realizados nos mesmos locais. As
condições estressantes em tanques e cultivo foram superiores aos ambientes naturais,
refletindo em valores ainda maiores de glicose, hematócrito, hemoglobina e micronúcleo, bem
como os menores valores para células de defesa. Foram observadas diferenças nos parâmetros
entre as espécies Mugil liza e Mugil curema nas amostras coletadas no Rio Ratones. Outras
evidências sugerem a formação de subgrupos dentro das espécies de Mugil curema no Saco
Grande o que poderia ser explicado por atividades migratórias. Concluímos que a espécie
Mugil liza é um bom bioindicador, e os parâmetros analisados podem ser utilizados como
biomarcadores de impactos antrópicos, pois respondem de forma satisfatória frente às
diferentes pressões ambientais. Além disso, o estudo proporcionou informações fisiológicas acerca das espécies analisadas em ambientes naturais e de cultivo, as quais são pouco
encontradas na literatura. |