Abstract:
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Há algo que incomoda na morte, como um constrangimento.
Parece incoerente, no entanto. Ignoramos a única certeza em nossas vidas - sem eufemismos - vamos todos morrer. Ainda assim, o sentimento de “imortalidade” toma forma. Não temos consciência de nossa própria finitude e, ainda, não sabemos lidar com quem sofre uma perda ao nosso redor.
Nos meus encontros com a morte, percebi esse constrangimento. Percebi que, muito mais que o fato de eu não me permitir lidar com as minhas próprias perdas, a minha presença causava uma certa tensão - como se a qualquer momento eu pudesse desmoronar. Em um momento tão sensível, me sentia compelido a me fechar.
Consequentemente, a morte não tem espaço na cidade. Os cemitérios, ao meu ver, são grandes vazios. Espaços dotados de uma energia negativa, locais de chorar, de experiências frias, impessoais e pesadas.
Essas sensações me contagiaram ao ponto que proponho, neste trabalho de conclusão de curso, o projeto de uma necrópole que, ao mesmo tempo que traz dignidade aos que partem, traz conforto aos corações dos ficam. Um espaço que é, muito antes de pertencente aos mortos, de ocupação dos vivos.
A morte trata da finitude do homem, certeza de um fim. Ainda que não se saiba o que há depois deste fim, as arquiteturas funerárias tratam de um ponto de inflexão entre esses dois mundos: material e imaterial. O projeto que aqui toma forma, muito mais do que espacialidade, tratará a discussão sobre este fenômeno que negamos. Propõem-se uma soleira, um local de transição entre duas realidades, que faz pensar e refletir a certeza do fim da vida. |