O sonoro na partilha do sensível e a potência política da música

DSpace Repository

A- A A+

O sonoro na partilha do sensível e a potência política da música

Show full item record

Title: O sonoro na partilha do sensível e a potência política da música
Author: Cavagnoli, Murilo
Abstract: Esta tese propõe uma análise das potências da música à produção de processos de subjetivação política voltados a emancipação. Sua construção é embasada na metodologia da análise de cenas de dissenso, proposta por Rancière, integrada a uma leitura transversal e cartográfica que intersecciona contribuições do mesmo autor referentes à política, subjetivação política e emancipação, à discussões caras à etnomusicologia. Inicialmente, apresenta perspectiva que desdobra noções centrais ao pensamentos de Rancière sobre o processo político, discutindo os modos de partilha do sensível, o par polícia e política e as relações entre estética e política, expondo possíveis formas de constituição à processos de subjetivação política conectados a criação, circulação e recepção da música. A política da estética, referente aos dissensos promovidos pela experiência estética no regime estético das artes, é situada ao diálogo com questões etnomusicológicas, como as relações entre música e o plano extramusical no ordenamento sônico, a composição musical, seus desdobramentos em processos de desidentificação e a relevância da música na constituição de litígios políticos na partilha do sensível. Posteriormente, o escopo teórico oferecido é lançado ao encontro com cenas de dissenso. Três cenas, atravessadas pela criação musical e pela sua circulação no campo social, são apreendidas como plano concreto de experiências pelas quais a reflexão teórica pôde transitar, se ampliar e modificar. As cenas são situadas no interstício dos séculos XIX e XX, na América do Norte. O período foi considerado relevante pela profusão de práticas musicais emergentes e em convivência num mesmo contexto. O litígio político em torno dos estereótipos remanescentes da escravidão e a luta de compositores negros para romper com o lugar identitário a que estavam restritos ofereceu um rico campo político no qual a música tem lugar central. A primeira cena remete à exposição do dano inerente a condição do compositor negro, e se desenvolve em torno das posições de Anton Dvorák sobre as conexões entre a música de tradição negra norte americana e música erudita canônica. Duas outras cenas se dirigem ao trabalho do compositor Will Marion Cook e ao coletivo de artistas integrados à elaboração heterogenética de intersecções entre o nascente jazz e a música erudita, na configuração de uma estética negra musical, capaz de afastar-se dos estereótipos identitários que, ao associar a existência do negro à figura caricata do menestrel e das coon songs , negam a estes o lugar de compositor e criador. O trânsito por essas cenas permite demonstrar que a lógica policial da partilha do sensível, em suas dimensões estéticas e simbólicas, se estende à constituição de um regime de sensorialidade consensual que atravessa a inteligibilidade da música. O trabalho de Will Marion Cook em In Dahomey, composição sujeita à análise musical e de seu contexto de produção, ofereceu a cena necessária à discussão das formas como o sonoro pode ser associado à constituição de sujeitos políticos. As expressões dissensuais que a música impulsionou emergiram como dobra música-vida, num trabalho de elaboração concomitante de sujeitos políticos e material sonoro. A potência política da música se conecta à expressão estética de uma identificação impossível, entre lugares. Em In Dahomey, a manutenção paradoxal da figura do menestrel e da coon song é que oferece ferramentas à desidentificação, à performance de uma demonstração do dano e de capacidades não contadas. O efeito estético resultante é produto da suspensão das relações consensuais entre razão e sensação, que nos encontros entre espectadores e obra impulsiona livre jogo e dispara acontecimentos nos quais o litígio sobre os lugares consensuais da partilha se faz possível. A conexão entre música e política se mostra amalgamada à relação entre criadores, música e espectadores, que emerge na experiência estética. A tese afirma a música como arte capaz de constituir dispositivos democráticos voltados a emancipação política, considerando a repartilha do sensível possível pela conexão do sonoro ao trabalho de desmontagem das identidades consensuais.Abstract : This thesis proposes an analytical perspective of the music's potencies to the production of political subjectivation processes voted to emancipation. Its construction is based on the methodology of dissensus scenes, proposed by Rancière, and integrated to a transversal and cartographic reading that intersects contributions of the same author referring to politics, political subjectivation and emancipation, to discussions dear to ethnomusicology. First, it presents a theoretical perspective that unfold central notions of Ranciere's thoughts about the political process, discussing the ways of distributing the sensible, the police and politics and the relations between aesthetics and politics, aiming to expose the possible ways of constructing political subjectivation processes connected to creation, circulation and reception of music. The aesthetics of politics, referred to the dissensus promoted by the aesthetic experience on the aesthetical regimen of arts, is placed in dialogue with ethnomusicological situations, as the relations between music and extra musical in the sonic order, the musical composition and its unfoldings in misidentification processes and the relevancy of music on the constitution of political litigations in distributing the sensible. Posteriorly, the constituted theoretical field is launched towards dissensus scenes. Three scenes traversed by musical creation and its circulation on the social field, are apprehended as a concrete experience field by which the theoretical reflection can transit, amplify and modify itself. The scenes take place in the interstice between the XIX and XX centuries, in North America. The period was considered relevant due to the plethora of musical practices emerging and coexisting in the same context. The political litigation around the slavery's remaining stereotypes and the struggle of African American composers to break through their place of identity where they were restricted, offers a rich political field in which music has a central place. The first scene refers to the exposure of the inherent damage to the black composer's condition, and develops around Anton Dvorák's positions about the connections between the American traditional black music and classical canonical music. Two other scenes address the work of Will Marion Cook and the collective of artists embeded on the heterogenetic drafting of intersections between jazz and classical music, on the setting of a musical black aesthetic , able to drive out its apprehension of the identity stereotypes that deny the composer and creative subject's place, by associating its existences to the figure of the minstrel and the coon songs . Transit through these scenes allows demonstrating that the police logic of distributing the sensible, in its symbolic and aesthetic dimensions, straddles to the constitution of a consensual sensoriality regimen that traverses the intelligibility of music. Will Marion Cook's 'in Dahomey', composition subjected to musical and production context assessment, offered the necessary scene to the discussion of ways on how the sound can be associated to the constitution of political subjects. The dissensical expressions that music boosted emerged as relation between music and life, in an concomitant elaboration effort to create political subjects and sonic material. The political potency of music connects to the aesthetic expression of a possible identification, between places. In 'In Dahomey', the paradoxal maintainability of the figure of the minstrel and the coon songs is the one that offers tools to misidentification, to the damage demonstration and untold capabilities performance. The aesthetic effect resultant is a product from the suspension of consensual relations between reason and sensation that boosts free game and starts happenings in which the litigations over the places of distribution make themselves possible, in the relation between creators, music and spectators. The thesis claims music as an art capable of producing democratic devices oriented to political emancipation, considering its necessary intersection on the effort to disassemble consensual identities.
Description: Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Florianópolis, 2018.
URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/193635
Date: 2018


Files in this item

Files Size Format View
PPSI0801-T.pdf 1.985Mb PDF View/Open

This item appears in the following Collection(s)

Show full item record

Search DSpace


Browse

My Account

Statistics

Compartilhar