A cidade, a rua, as pessoas em situação de rua: (in)visibilidades e a luta por direitos

Abstract

Neste estudo, a cidade foi lócus de pesquisa-intervenção; as pessoas que fazem dela espaços de existência e resistência, pessoas em situação de rua, foram por sua vez as interlocutoras, as pessoas com as quais se pesquisou. Compreendemos a cidade como produto e produtora dos diferentes modos de viver, constituída pelas relações sociais que nela se estabelecem. Assim, foi objetivo geral da pesquisa investigar os sentidos produzidos por pessoas em situação de rua a respeito dos processos de visibilidade e invisibilidade que a elas se dirigem na cidade. Os objetivos específicos foram: investigar os modos como as pessoas em situação de rua experienciam a cidade; analisar os discursos produzidos pelas pessoas em situação de rua sobre si, sobre os outros e sobre a cidade; e investigar a luta por direitos de pessoas que vivem em situação de rua. O percurso investigativo compreendeu incursões no centro da cidade de Florianópolis/SC, em específico na Praça XV de Novembro e arredores, e a participação em reuniões e atividades do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR/SC). Foram realizadas conversas individuais e/ou coletivas, gravadas em áudio ou registradas em diário de campo, com 25 pessoas em situação de rua ou que possuem trajetória de rua. As informações registradas foram analisadas na perspectiva da Análise Dialógica do Discurso. A pesquisa evidenciou a importância de se considerar as pessoas em situação de rua em sua singularidade e reconhecer as estratégias particulares que desenvolvem para existir na e ocupar a cidade. Os/as interlocutores/as criam formas diferenciadas de resistir na cidade, construindo imagens de si que se distanciam das hegemônicas e estigmatizadoras. A luta por direitos atravessa a vida das pessoas em situação de rua, mobilizando-as a se organizar de maneira coletiva, sendo essa organização marcada por paradoxos e contradições. Os processos de visibilidade e invisibilidade que acometem a vida das pessoas em situação de rua/trajetória de rua, por sua vez, transversalizam diferentes aspectos da vida dessas pessoas, coexistindo e se configurando como processos desejados em alguns momentos e indesejados em outros.

Abstract : In this study, the city was the locus of research and intervention, the people who make its space of existence and resistence, people on the streets, were in turn the interlocutors, the people you searched for. We understand the city as a product and producer of the different ways of living constituted by the social relations established in it. Thus, it was the general objective of the research to investigate the senses produced by homeless people regarding the processes of visibility and invisibility that go to them in the city. The specific objectives were: to investigate the ways in which homeless people experience the city, to analyse the speeches produced by homeless people about themselves, about others and about the city; to investigate the struggle through the rights of people living on the street. The investigative course comprised incursions in the city center of Florianópolis S/C on Praça XV de Novembro and surroundings and the participation in meetings and activities from the Movimento Nacional de População de Rua (MNPR/SC). Individual and collective conversations were held, recorded in audio or registered as notes with 25 people in a street situation or who have a street trajectory. The information registered were analysed in the perspective of Dialogical Analysis of Discourse. The research highlighted the importance of considering homeless people in their uniqueness and recognize the particular strategies they develop to exist in the city and to occupy it. The interlocutors create differentiated forms of resist in the city, constructing images of themselves that distance from the hegemonic and stigmatized. The struggle for rights crosses the lives of homeless people, mobilizinig them to organize themselves collectively, being this organization marked by paradoxes and contradictions. The processes of visibility and invisibility, that affect the lives of homeless people or street trajectory, in turn mainstreaming different aspects of their lives coexisting and configuring themselves as desired processes at some moments and unwanted in others.