O corpo para pessoas com deficiência física: mídia e representações sociais

Abstract

O corpo possui direta relação com padrões de beleza que exigem medidas precisas e é essencial na formação de impressões sobre alguém. Ao se pensar em pessoas com deficiência física, o corpo torna-se o principal marcador da diferença. Essa pesquisa teve como objetivo caracterizar as representações sociais da deficiência física na mídia e caracterizar as representações sociais do corpo para homens e mulheres com deficiência física adquirida. Na fundamentação teórica, utilizou-se a Teoria das Representações Sociais na interface com teorias de comunicação e uma perspectiva social relacionada às pessoas com deficiência. Buscou-se responder aos objetivos por meio de uma abordagem multi-método. O primeiro estudo foi documental retrospectivo, com análise de 55 reportagens da revista Veja, publicadas de 1968 a 2016, cujo conteúdo evidenciava a deficiência física. Analisou-se o corpus por meio de uma Classificação Hierárquica Descendente. O segundo estudo consiste em estudos de casos com 24 participantes, pareados entre sexos, residentes da Grande Florianópolis. Como instrumento realizou-se uma entrevista semiestruturada e a aplicação de um questionário sociodemográfico. A análise de dados envolveu Classificação Hierárquica Descendente, análise categorial-temática e análise descritiva (média, desvio-padrão e frequência). A representação social da deficiência física observada na revista Veja apresenta aspectos representacionais relacionados à divulgação de conhecimentos científicos sobre tecnologias adaptadas e avanços médicos, relatos pessoais focados na tragédia e na reabilitação e reportagens que elucidam as barreiras sociais e arquitetônicas. Observou-se que as representações sociais propagadas pelo meio midiático ancoram-se nas representações de doença. As representações sociais do corpo para os entrevistados possuem dois eixos estruturais: saúde e estética. Quanto ao corpo com lesão, mesmo que ancorada nas representações sociais do corpo, os participantes trouxeram elementos representacionais relacionados ao seu contexto como a rotina de cuidados, funcionalidade do corpo e obstáculos encontrados. Os entrevistados, ainda, evidenciaram aspectos de representações sociais da deficiência que corroboram com as representações propagadas pela revista Veja. Não foram encontradas diferenças significativas nas representações sociais do corpo de homens e mulheres, contudo, alguns elementos vivenciais foram distintos, evidenciando manutenção de comportamento relacionado aos papeis de gênero. Observa-se que a mídia, por ter um impacto direto na propagação de representações sociais, pode reafirmar preconceitos e estereótipos acerca da deficiência. Contudo, poderia servir como instrumento para o movimento pró-inclusão a fim de facilitar um espaço de discussão sobre o assunto, contribuindo para mudança social e desconstrução de barreiras atitudinais. A compreensão do fenômeno corpo para pessoas com deficiência trouxe avanços para o conhecimento científico, contudo, sugere-se a necessidade de novos estudos para que o conhecimento multidisciplinar do corpo deficiência possam ser aprofundados e investigados sob suas múltiplas variáveis. Devido sua presença constante no âmbito individual ou social ressalta-se a importância de inserir a deficiência como uma categoria de análise transversal às pesquisas. Mostra-se pertinente a criação de espaços públicos que se atentem à diversidade corporal e estratégias que estimulem a participação social e política das pessoas com deficiência considerando a representatividade dessa categoria social.

Abstract : The body has a direct relationship with patterns of beauty that require precise measurements and is essential in forming impressions on someone. When thinking about people with physical disabilities, the body becomes the main marker of difference. This research aimed to characterize the social representations of the physical disability in the media and to characterize the social representations of the body for men and women with acquired physical disability . In the theoretical basis, the Theory of Social Representations was used in the interface with communication theories and a social perspective related to people with disabilities. It was sought to respond to the objectives through a multi-method approach. The first study was retrospective documentary, with analysis of 55 articles available in Veja magazine, published from 1968 to 2016, whose content showed the physical disability. The corpus was analyzed by means of a Hierarchical Descending Classification. The second study consists of case studies with 24 participants, paired between sexes, residents of Greater Florianópolis area. As instrument, a semi-structured interview was carried out and a sociodemographic questionnaire was applied. Data analysis involved descending hierarchical classification, categorial-thematic analysis and descriptive analysis (mean, standard deviation and frequency). The social representation of the physical disability observed in Veja magazine presents representational aspects related to the dissemination of scientific knowledge about adapted technologies and medical advances, personal reports focused on tragedy and rehabilitation, and reports that elucidate social and architectural barriers. It was observed that the social representations propagated by the media are anchored in the representations of disease. The social representations of the body for the interviewees have two structural axes: health and aesthetics. As for the body with injury, even if anchored in the social representations of the body, the participants brought representational elements related to their context such as the routine of care, body functionality and obstacles encountered. The interviewees also showed aspects of social representations of the disability that corroborate with the representations propagated by Veja magazine. No significant differences were found in the social representations of the body of men and women, however, some experiential elements were distinct, evidencing maintenance of behavior related to gender roles. It is observed that the media, because it has a direct impact on the propagation of social representations, can reaffirm prejudices and stereotypes about the disability. However, it could serve as a tool for the inclusion movement in order to facilitate a space for discussion on the subject, contributing to social change and deconstruction of attitudinal barriers. The understanding of the body phenomenon for people with disabilities has brought advances to scientific knowledge, however, it is suggested the need for further studies so that the multidisciplinary knowledge of the body deficiency can be deepened and investigated under its multiple variables. Due to its constant presence in the individual or social sphere, the importance of inserting disability as a category of analysis transversal to the research is highlighted. It is pertinent to create public spaces that are attentive to the corporal diversity and strategies that stimulate the social and political participation of people with disabilities considering the representativeness of this social category.