O cuidado em saúde mental: limites e possibilidades da rede de atenção psicossocial

Abstract

O modelo psicossocial vem sendo discutido e praticado no Brasil a partir da década de 90. Após 27 anos, ainda não obtivemos êxito na implantação dos serviços que possibilitam este modelo de cuidado, muito menos inserimos de maneira significativa posicionamentos psicossociais junto às universidades e às lideranças governamentais. É um caminho tortuoso, no qual estamos aplicando, questionando, avaliando e reformulando cuidados em saúde mental que deem conta de assegurar a saúde coletiva. O objetivo do presente estudo foi compreender as concepções sobre o cuidado em saúde mental na Atenção Básica, a partir dos discursos dos profissionais e gestores da área da saúde do município de Florianópolis. Ele se debruça sobre o processo que a reforma psiquiátrica trilhou, assim como sobre o processo de desenvolvimento da ciência da saúde e das concepções sobre a loucura e os diferentes modelos de cuidado. Foram entrevistados 14 sujeitos, dentre eles: 11 profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família, que atuavam no contexto da saúde mental, e 3 gestores de saúde. As entrevistas foram analisadas a partir da perspectiva hermenêutico-dialética, que entende a compreensão a partir do diálogo, pela qual a posição do pesquisador é de ouvir atentamente e respeitar as diferentes opiniões sobre determinado assunto e as maneiras de ser no mundo. O processo de análise e discussão dos dados deu-se por intermédio de seis núcleos de sentido; déficit entre o real e o ideal; estratégias do cuidado; tensões epistemológicas; formação profissional; saúde do profissional de saúde e aproximação com as discussões da reforma psiquiátrica. Como resultado, pode-se compreender que a atenção básica do município de Florianópolis está permeada de diferentes concepções sobre o cuidado em saúde mental. Mais do que as lacunas práticas do município de Florianópolis, os profissionais enfrentam dificuldades de rotina de trabalho. O momento é de construir a política e de pensar de que forma se haverá de organizar o cuidado já concretizado. É preciso, sim, avaliar de que forma essas políticas estão sendo aplicadas, não com o intuito de as exterminar, mas como estratégia para diagnosticar as lacunas existentes e as possíveis implementações concretas das práticas de cuidado, refletindo sobre o modelo psicossocial e as maneiras de o promover. As concepções sobre o cuidado em saúde mental no país são um mosaico de concepções históricas sobre a loucura. Ainda há na rede e na gestão concepções e práticas que estigmatizam, isolam, infantilizam e expõem a perigo os sujeitos em sofrimento psíquico.

Abstract : The psychosocial model has been discussed and practiced in Brazil since the 1990s. After 27 years, we have not yet succeeded in implementing the services that make this model of care possible, much less significantly inserting psychosocial positions in universities and leadership governmental organizations. It is a tortuous path in which we are applying, questioning, evaluating, and reformulating mental health care that assures collective health. The objective of the present study was to understand the conceptions about mental health care in Primary Care, based on the discourses of health professionals and managers in the city of Florianópolis. It focuses on the process that psychiatric reform has undergone, as well as on the process of developing health science and conceptions about madness and different models of care. Fourteen subjects were interviewed, among them: 11 professionals from the Family Health Support Unit who worked in the context of mental health, and 3 health managers. The interviews were analyzed from the hermeneutic-dialectic perspective, which understands the understanding from the dialogue, through which the researcher's position is to listen attentively and respect the different opinions on a certain subject and the ways of being in the world. The process of analysis and discussion of the data occurred through six nuclei of meaning; deficit between the real and the ideal; care strategies; epistemological tensions; professional qualification; health of the health professional and approaching the discussions of psychiatric reform. As a result, it can be understood that the basic care of the municipality of Florianópolis is permeated by different conceptions about mental health care. More than the practical shortcomings of the municipality of Florianopolis, the professionals face difficulties of routine of work. The moment is to build the policy and to think about how to organize the care that has already been implemented. Rather, it is necessary to assess how these policies are being applied, not with a view to exterminating them, but rather as a strategy to diagnose existing gaps and possible concrete implementations of care practices, reflecting on the psychosocial model and the ways of or promote it. The mental health care s conceptions in Brazil are a historical madness conceptions mosaic. There are, in the network and in the city management, conceptions and practices that stigmatize, isolate, infantilize and expose to danger the people in psychic suffering.