Atitudes de produtores de leite em relação aos fatores de risco associados à ocorrência de claudicação em rebanhos a base de pasto

Abstract

A claudicação é uma das condições multifatoriais mais importantes que afeta vacas leiteiras, a qual diminui a produção de leite e bem-estar desses animais. O objetivo do presente estudo foi identificar crenças e atitudes de produtores de leite a respeito de fatores de risco associados com a ocorrência de claudicação, seu tratamento e prevenção, após um programa de benchmarking. Em 2015, 44 propriedades produtoras e leite no estado de Santa Catarina, Brasil, foram visitadas duas vezes, de março a outubro para coleta de dados de prevalência de claudicação e fatores de risco associados. Em dezembro de 2015 a abordagem do benchmarking foi usada na qual, brevemente, os seus resultados foram apresentados aos produtores, mostrados em comparação com todos as propriedades participantes, e informações sobre os fatores de risco para claudicação que foram identificadas nessas propriedades, a discussão de medidas preventivas relevantes individualmente com cada família. De maio a junho, entrevistas em profundidade foram feitas com 40 destes agricultores. Inicialmente foi perguntado aos produtores que dessem suas impressões da prevalência de claudicação nas suas propriedades, o que eles percebiam como fatores de risco associados, e suas atitudes a respeito de medidas preventivas e curativas. A entrevistadora transcreveu as entrevista e fez uma temática. A maioria dos produtores (n=33) disse que tinha poucas vacas mancas na fazenda, eles declararam que a claudicação como um problema do sistema de free-stall, e alguns comentários sugeriram a dificuldade dos produtores em identificar as vacas claudicantes. A raça das vacas, apresentada durante o benchmarking como um importante fator de risco na região, foi considerada um fator de risco pelos produtores somente depois que a entrevistadora levantou o problema. Os produtores comentaram que as vacas de raça Holandês eram mais suscetíveis a claudicação que as vacas Jersey; porém, eles não expressaram intenções de mudar a raça do rebanho, e mostraram preferências pelas vacas Holandês de alta produção. Nenhum dos produtores considerou a idade das vacas, condição corporal e sobrecrescimento dos cascos como fator de risco para claudicação em seus rebanhos. Isso justifica as crenças, expressa pela maioria dos produtores, que o casqueamento não é necessário nas suas vacas, apesar da maioria considerar isso importante em propriedades com free-stall. A metade dos entrevistados disse ter descartado vacas devido a claudicação, mas as razões principais de descarte eram mastite, idade, problemas reprodutivos e diminuição na produção de leite. Os produtores não comentaram sobre a velocidade de condução dos animais como fator de risco que aumenta a claudicação, apesar de que 15 reconheciam a necessidade de ?tocar? as vacas quando deslocadas para e da sala de ordenha. Além disso, 37 usaram os termos ?preguiçosa? e ?lerda? para descrever vacas claudicantes, vacas velhas que precisavam ser tocadas, e muitos expressaram atitudes negativas e alguns descreveram comportamentos aversivos. A condição dos caminhos (ex. pedras, cascalho, umidade e barro) foi o fator de risco para ocorrência da claudicação mais citado pelos entrevistados (n=17). A maioria dos entrevistados expressou atitudes positivas em relação a melhora dos caminhos, mas apenas cinco relataram ter feito mudanças no último ano. O segundo fator mais citado pelos entrevistados foi a acidose ruminal, causada pelo excesso de proteína na alimentação e pouca forragem. Isso justificou o uso de tamponante como principal medida preventiva para claudicação. Os resultados fornecem evidências de uma cultura prevalente na qual a claudicação não é uma doença importante nas propriedades de leite a base de pasto, o que age como uma barreira para que os produtores identifiquem essa doença e fatores de risco associados que podem levar a medidas de prevenção nas propriedades. Entender essa cultura é importante já que o sucesso de qualquer programa de controle de doenças a nível individual (ex. controle da claudicação na propriedade) depende de um bom entendimento do contexto cultural daquela comunidade que forma e toma medidas e decisões.

Abstract : Lameness is one of the most important multifactorial condition affecting dairy cows, which decreases milk production and the welfare of these animals. The objective of the present study was to identify beliefs and attitudes of dairy farmers towards risk factors associated with lameness occurrence, it?s treatment and prevention, after a benchmark intervention. In 2015, 44 pasture based dairy farms in Santa Catarina state, Brazil were visited twice from March to October for data collection on lameness prevalence and associated risk factors. In December 2015 a benchmarking approach was used in which, briefly, farmers were presented their results, shown in comparison with all participant farms, and information about the main risk factors for lameness that had been identified at these farms, and relevant preventive measures were discussed individually with each family. In May-June 2017, in-depth interviews were done with 40 of these farmers. Initially, farmers were asked to give their impressions on the prevalence of lameness in their farms, what they perceived to be associated factors, and their attitudes regarding preventive and curative measures. Interviews? transcriptions and thematic analyses were done by the interviewer. Most farmers (n=33) reported having few lame cows on farm; they dismissed lameness as a problem of the free-stall system, and some comments imply farmers? difficulty to identify lame cows. Cows? breed, presented during the benchmarking as an important risk factor in the region, was considered a risk factor by the farmers only after the interviewer raised the issue. Farmers did comment that Holstein cows were more susceptible to lameness than Jersey cows; however, they expressed no intention to change the breed of the herd, showing a preference for the higher producing Holstein cows. None of the participants considered cows? age, body condition score, or overgrown claws a risk factor for lameness in their herds. This justified beliefs, expressed by the majority of the interviewees, that hoof trimming is not necessary for their cows, though most considered it important for free-stall farms. Half of interviewees reported having culled cows due to lameness, but the main reasons for culling cows were mastitis, age, reproductive problems and decreased milk production. Farmers did not list chasing speed as a factor increasing lameness, although 15 recognised the need to chase the cows when moving to and from the milking parlour. Moreover, 37 used terms such as ?lazy? or ?sluggish? to describe lame, older cows that needed to be pushed, with many expressing negative attitudes and some describing aversive behaviours during the daily management of the herd. The condition of the tracks (e.g., stones, gravel, humidity and mud) was the most common risk factor for lameness occurrence cited by the interviewees (n=17). The majority of the farmers expressed positive attitudes towards improving the tracks, but only five reported having made any changes in the past year. The second most cited factor perceived by farmers (n=14) as associated with lameness was ruminal acidosis caused by feeding excess of protein and low roughage. This justified the identification of buffer salts as a main preventive measure for lameness. Results provide evidence of a prevailing culture where lameness is not an important disease in pasture based farms, which acts as a barrier for individual farmers to recognize this malady and associated risk factors that might trigger preventive behaviour on farm. Understanding this prevailing culture is relevant since the success of any disease control programme at an individual level (i.e. control of lameness on farm) is dependent on a good understanding of the community cultural context that forms and fosters behaviours and decisions.