Abstract:
|
O debate sobre trabalho produtivo, que se estende desde os fisiocratas até autores contemporâneos, é assunto altamente polêmico por se mover em um campo teórico bastante escorregadio, repleto de ambigüidades e contradições. Nem mesmo Marx conseguiu apresentar uma definição teórica precisa e oscilou, em alguns momentos, entre a hipótese de que apenas o trabalho que participa diretamente da produção de mercadorias e, portanto, da produção do valor e da mais-valia, é produtivo, e a hipótese de que qualquer trabalho comprado com capital faz jus a esta classificação. Fruto de suas contradições e da complexidade do tema, a distinção entre trabalho produtivo e improdutivo costuma suscitar grande polêmica entre os economistas marxistas e ganha forte expressão na atualidade, onde um número crescente de trabalhadores não empregados diretamente na produção de mercadorias cria o problema analítico de explicar o seu papel e a sua contribuição para o aumento da riqueza da nação. Enquanto alguns autores, entre os quais Olmedo Beluche, Ernest Mandel e Ruy Mauro Marini, inferem que o trabalho realizado por funcionários do comércio, bancários e funcionários públicos não é produtivo, outros autores, como João Bernardo e Euclides Mance, entendem que o trabalho produtivo não implica necessariamente a produção de mercadorias. As respostas possíveis a esta questão estão longe de chegar a um consenso, contudo, a reflexão sobre o tema é essencial na medida em que atenta para fenômenos atuais importantes, tais como uma industrialização generalizada nas esferas da circulação, dos serviços e da reprodução, o fim da dependência do trabalho vivo para a produtividade e a crescente importância da ciência, desenvolvida em um tempo de “não trabalho” para a acumulação do capital. |