Abstract:
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A cidade vive num processo de constante metamorfose, se reconstrói a cada instante, criando e recriando seus nichos. Este trabalho historiográfico propõe um estudo da cidade de Florianópolis, em Santa Catarina, como texto a ser lido, interpretado e problematizado. Uma cidade antropofágica, que segue inquieta um processo paradoxal de construção/destruição dos suportes materiais de manutenção das suas memórias urbanas,, que é a condição do ato criativo, artístico e mnemônico. Um processo que traz em si a condição do novo, do original, do inusitado, do Ursprung benjaminiano. Para isso, o Bar e Trapiche Miramar surge como mediador. Ele aparece travestido em várias metáforas (de atracadouro, de mirante, de bar, de teatro, de estacionamento; de modelo para os artistas; de lugar para os pensadores, de pescadores, de poetas, de cantores, de políticos, de carnavalescos, de crianças brincalhonas; de abrigo para os desavisados das chuvas e vento sul, para os amores ilícitos e furtivos, para os bêbados boêmios) que se revelam nesse trabalho, ou melhor, surge como uma porta de entrada para o estudo das memórias, das artes, dos sentidos, das ressignificações, dos esquecimentos, dos ressentimentos, dos silêncios que se propagam pelo espaço de uma cidade invisível que habita as subjetividades. Dessa maneira, o trabalho foi dividido em três capítulos: Registro de uma morte anunciada - (A Perda), que opera diretamente com a dinâmica da trilogia destruição/preservação/criação. Versa sobre as potencialidades do monumento Memorial ao Miramar, construído em 2001, como "signo" revelador das arritmias urbanas e da tentativa frustrada de monumentalização da memória do Trapiche como obra representativa da antiga maritimidade. No capítulo seguinte, intitulado Teatro Trapiche: arte da resistência (Na iminência da perda), apresento um dos lugares descobertos entre as ruínas da história: o Teatro Trapiche. O Miramar, depois de abrigar os boêmios, poetas, escritores, jornalistas, por décadas - que o tinham, inclusive, como "lugar de criação" -, na iminência de sua demolição, num ato de resistência, acolheu ainda, em 1972, o primeiro Teatro de Arena do Estado de Santa Catarina. No terceiro capítulo, Artes e Rascunhos da memória (A Produtividade da Perda), o Miramar é ainda lugar e objeto de produção artística. As obras de três artistas plásticos, contemporâneos e freqüentadores do Miramar: Domingos Fossari, Tércio da Gama e José Cipriano, são tomadas como narrativas pictóricas. Por meio deles, de suas técnicas e memórias, surgem "Miramares" matizados e anacrônicos. |