Title: | Táxons biológicos: aspectos semânticos e metafísicos |
Author: | Brzozowski, Jerzy André |
Abstract: |
Este trabalho pretende responder à pergunta: como é possível que os nomes dos táxons biológicos sejam usados para se referir às entidades a que se referem? Para tanto, começamos, no capítulo 1, pela análise do conceito de linhagem biológica, argumentando que ele deve ser primordialmente entendido no sentido monofilético, isto é, o de que uma linhagem é um grupo formado por um ancestral e todos seus descendentes. Apresentamos então a ideia de que os táxons são, contemporaneamente, concebidos como linhagens e, portanto, seu estatuto ontológico não é o de classes naturais, mas sim o de entidades históricas individuais. Essa tese foi famosamente defendida por Ghiselin e Hull, mas o mais importante para os propósitos deste trabalho é o lugar central que ela ocupa na teoria da sistemática filogenética proposta por Willi Hennig. Comentamos alguns dos aspectos da ontologia que embasa a teoria de Hennig, e, no final do capítulo, levantamos algumas consequências da tese da individualidade. Uma dessas consequências, a ideia de que os nomes dos táxons são próprios, é apresentada por Ghiselin e Hull em associação com a teoria causal da referência, na tentativa de argumentar que os táxons não têm propriedades definitórias (essências). Desse modo, no capítulo 2, analisamos as duas principiais teorias da referência para nomes próprios - descritivista e causal-histórica - e o modo como elas são defendidas por diferentes autores. De acordo com a visão descritivista, a relação entre um nome próprio e seu portador é mediada por um componente epistemológico, em geral entendido como um conjunto de representações (de natureza linguística ou não) do portador. Para a teoria causal-histórica, por outro lado, um nome próprio se refere a seu portador em todos mundos possíveis, ou seja, independentemente do conhecimento que tenhamos das propriedades ou feitos do portador. Há, no entanto, um problema para uma defesa da teoria causal no caso dos nomes dos táxons biológicos. Trata-se do conhecido "problema qua": se não houver a mediação de um critério de identidade para o objeto nomeado, o referente do nome não pode ser identificado de modo inequívoco. Assim, no capítulo 3, defenderemos uma teoria da referência híbrida para os nomes de táxons, segundo a qual há dois elementos que compõem os sentidos desses nomes: critérios de aplicação e critérios de identidade. No sistema nomenclatural lineano, atualmente aceito, os critérios de aplicação são associados aos nomes por efeito dos códigos de nomenclatura. Os critérios de identidade, por outro lado, são contribuídos pelo contexto teórico circundante. Comparamos esse sistema com o PhyloCode, uma proposta recente de sistema nomenclatural na qual os nomes dos táxons seriam definidos filogeneticamente, isto é, em função de sua posição relativa na árvore da vida. Argumentaremos que a rejeição do PhyloCode por parte da comunidade de biólogos se deve ao fato de que esse código transforma critérios de identidade em critérios de aplicação, o que é heuristicamente indesejável para a sistemática filogenética. Entretanto, isso não implica que a ideia de que é possível estabelecer critérios de identidade deva ser rejeitada. Pensamos que a visão mínima de que é possível fornecer critérios de identidade para táxons pode ser apropriadamente chamada de essencialismo sobre táxons biológicos, e nossa defesa dela constitui uma segunda linha de argumentação do capítulo 3. O ponto é que se costuma entender a tese da individualidade das espécies como tendo refutado definitivamente o essencialismo. Entretanto, argumentaremos que essencialismo e antiessencialismo são posições sobre critérios de identidade, e não sobre o estatuto ontológico, das entidades. A tese da individualidade, pensamos, é insuficiente para a refutação do essencialismo. Para tanto, seria necessário defender que é impossível estabelecer critérios de identidade para os táxons. Terminamos com algumas respostas a essa objeção. The object of this work is to answer the question: how is it possible that the names of biological taxa refer to the entities that they do refer to? In order to address the question, we begin the first chapter by analyzing the concept of biological lineage, arguing that it should be understood in a monophyletic sense, that is, a lineage is a group constituted by an ancestor and all of its descendants.We then present the idea that taxa are contemporarily construed as lineages; therefore, their ontological status is that of individual historical entities, and not of natural kinds. This thesis was famously defended by Ghiselin and Hull, but, for our present purposes, its meaningfullness lies in the fact that it plays a prominent role in Willi Hennig's theory of phylogenetic systematics. We present some of the aspects of Hennig's ontology and then, towards the end of the chapter, address some consequences of the individuality thesis. One of these consequences, namely, the idea that the names of biological taxa are proper, is presented by Ghiselin and Hull in association with the causal theory of reference, in an attempt to argue that taxa have no defining properties (i.e., essences). In chapter 2, we present the two main philosophical theories of reference for proper names - the descriptivist and causal-historical theories. According to the descriptivist view, the relation of reference is mediated by an epistemological component, generally understood to be a set of representations of the name-bearer. For the causal-historical theory, on the other hand, a proper name refers to its bearer in all possibile worlds, independently of any knowledge we may have about the properties or doings of the bearer. The causal theory, when held for proper names of taxa, faces a well-known difficulty, the so-called qua-problem: if reference is a direct relation, unmediated by at least a criterion of identity for the namebearer, it cannot be inequivocally identified. Thus, in chapter 3, we attempt to provide a hybrid theory of reference that is designed to address the qua-problem. According to this theory, taxon names have Fregean senses composed of two elements: a criterion of application and a criterion of identity. Criteria of application are provided by the nomenclatural codes when at reference-fixing events.Criteria of identity are contributed by the surrounding theoretical context. From the viewpoint of the theory thus provided, we compare current nomenclatural codes with the PhyloCode. We argue one of the main reasons for the lack of acceptance towards the PhyloCode may be the fact that it converts identity criteria into criteria of application. This conversion is undesirable for the heuristics of phylogenetic systematics. Nonetheless, one should not conclude that it is impossible to establish identity criteria for biological taxa. We construe essentialism as a position concerning identity criteria, not ontological status. That consitutes a second line of argument taken up in chapter 3. The point is that the adoption of the individuality thesis does not automatically refute essentialism. In order to do so, one must defend that criteria of identity for biological taxa are unavailable.We conclude by addressing that possibility, in the version presented by Ereshefsky.We defend that the objection is untenable on the grounds that (1) it rests on an unreasonable demand for identity criteria and (2) it brings the qua-problem back. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. |
URI: | http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/96357 |
Date: | 2012 |
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310440.pdf | 3.282Mb |