Abstract:
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A presente pesquisa teve origem na leitura da correspondência de Charles Baudelaire. De fato, o retrato encontrado nas cartas não correspondia à imagem do poeta que tínhamos até então, chocando-se, notadamente, com o ensaio "A arte de Baudelaire" do renomado tradutor das Flores do mal: Ivan Junqueira. Assim sendo, tendo em vista não haver tradução para o português dessa correspondência, por um lado, propomos uma tradução comentada de uma seleção de epístolas, por outro, investigamos as afirmações de Junqueira, de influência sartriana, que propagaram o mito (ou a lenda) em torno de Baudelaire, sobretudo, a revolta com o casamento da mãe com o coronel Aupick e o complexo de Édipo. Nossa tradução teve respaldo nas reflexões de Haroldo de Campos e Antoine Berman, principalmente, no cuidado com a expressão, o agenciamento das palavras, com a proposta, via a escrita mallarmeana, de valorizar a sugestão, o enigma, enfim, a potência da linguagem em detrimento da hegemonia absoluta do sentido. Tal um microscópio, a violação da sintaxe em Mallarmé possibilitou enxergar a expressão que Baudelaire inventou, muito mais discreta, mas não menos importante. Esta seleção é composta de 95 cartas, na maioria no período entre 1832-1842, da infância à seu retorno de Bourbon, para examinar as relações do poeta com sua família, situando-os também em seu contexto burguês no século XIX. Esta tese é composta não somente do exercício desafiador da tradução das missivas, mas igualmente da análise de uma tradição baudelairiana que alcançou o Brasil sem uma reflexão aprofundada com base na correspondência. Esta versão procura debater um outro Baudelaire, revelado na leitura de suas epístolas. |