Abstract:
|
Neste estudo analisamos as percepções e sensibilidades cotidianas expressas pelos habitantes da capital catarinense frente à gradativa introdução do transporte motorizado no perímetro urbano de Florianópolis, entre os anos de 1920 e 1941. Discutimos a maneira como, para muitos dos habitantes da capital catarinense, o progresso da cidade representou novas formas de viver no perímetro urbano, ou seja, acostumar-se a andar pelas novas ruas, redefinidas e calçadas para os automóveis e não somente para os transeuntes. Analisamos, também, o gradativo processo de imposição dos veículos motorizados no espaço central de Florianópolis, envolvendo a adaptação de normas legislativas de trânsito que se tentavam aplicar ao meio urbano da capital catarinense, como forma de disciplinar o fluxo e deslocamento de veículos e transeuntes. As fontes de maior relevância são os processos criminais que envolvem episódios de atropelamentos e colisões no perímetro urbano da Capital. A tônica geral na análise desses documentos e das demais fontes pesquisadas observa que a circulação dos automóveis se impôs gradativamente àquela operada por transeuntes e veículos não motorizados carroças, bondes puxados por burros, tílburys, especialmente no decorrer das décadas de 1910 e 1920, e devemos observar que os transeuntes, ao circularem pelas ruas do perímetro urbano da Capital, operam táticas e estratégias específicas, ditadas pelas condicionantes do viver urbano, que conferem caráter imprevisível e circunstancial às atitudes por eles tomadas para se esquivarem das investidas operadas pelos veículos motorizados. Os chauffeurs, condutores dos automóveis, operam, também, artifícios e recursos diversos para evitar atropelamentos e colisões. Este estudo possibilita-nos analisar aspectos importantes da vida de personagens anônimos do cotidiano de Florianópolis, que de outra maneira seriam, a nosso ver, difíceis de serem elucidados. |