Abstract:
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Este trabalho tem como objetivo analisar a composição dos fanzines punks como práticas que exigem dos indivíduos uma reflexão sobre si mesmo, uma crítica de si e do outro enquanto sujeito de uma ética. Ela se faz na interseção de diversos territórios existenciais, agenciando sentimentos de ressentimento, sofrimento e ódio, dando forma a uma narrativa da vida contemporânea em seu embate contra um poder que tenta colonizá-la, perpassada por imagens que revelam corpos esgotados e dilacerados pela modernidade, mas que resistem não se deixando anestesiar os sentidos e fazendo emergir sensibilidades outras. Trata-se aqui, mais precisamente, de analisar como determinados indivíduos se engajam em processos de construção de si a partir de uma escrita que não cessa de discutir os significados do "ser punk" e de tentar submeter os sentimentos brutos à uma forma que possibilite a ação política. O texto procura trazer a tona existências obscuras, vidas de homens infames, que transparecem em narrativas críticas de si mesmo e dos valores dominantes, estranhos poemas que formam uma antologia de vidas errantes, que se recusam a aceitar as identidades dadas pelo poder, mas que também não aderem passivamente a um "discurso" punk previamente definido e codificado, que resistem ao reinventarem cotidianamente esse discurso e ao atualizarem em suas vidas. |