Abstract:
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O presente trabalho teve por objetivo compreender os sentidos socialmente construídos e partilhados pelas crianças sobre a escola, ao viverem a experiência inicial do processo de escolarização. Os sujeitos da pesquisa constituíram-se de um grupo de 20 crianças com idade entre seis anos e sete anos de uma escola Desdobrada da Rede Pública Municipal de Florianópolis que frequentavam a educação infantil anteriormente ao ingresso na escola do ensino fundamental de nove anos. Como metodologia, optou-se por desenvolver uma pesquisa qualitativa de inspiração etnográfica, que adotou como procedimentos a observação participante, o registro fotográfico e registro em diário de campo como principais instrumentos de coleta de dados no trabalho de campo. Destacou-se principalmente, neste estudo, o processo de produção das culturas infantis, estreitando-se o foco nas estratégias que as crianças constroem nas interações entre pares e com os adultos, ao transitarem da educação infantil para o primeiro ano do ensino fundamental. Nas análises dos dados, buscou-se estabelecer uma interlocução teórica entre os campos das Ciências Sociais e os das Ciências Humanas. Pela intersecção desses dois campos, foi possível tecer uma discussão em torno da realidade infantil no contexto em questão, entremeando-a com as reflexões, princípios e pressupostos de algumas áreas do conhecimento de cada um dos campos: na área das Ciências Sociais, nomeadamente a Sociologia da Infância e a Antropologia da Criança; na das Ciências Humanas, especificamente a Filosofia da Infância e a Pedagogia da Infância, ressaltando-se o entre-lugar construído e partilhado pelas crianças com seus pares e com os adultos no contexto escolar. Outrossim, o estudo possibilitou perceber as estratégias criativas construídas pelas crianças para lidarem com as regras instituintes da escola, ora atendendo, ora subvertendo o que lhes é imposto, sendo tal dinâmica constituinte e constituidora da construção de sentidos individuais e coletivos para o seu processo de socialização e escolarização, possibilitando-as construírem seus próprios lugares para brincar nos diferentes espaços escolar. Também foi possível evidenciar, a partir das observações realizadas das conversas e interações das crianças com seus pares e com os adultos, que elas possuem uma visão ampla do mundo, uma vez que apresentaram conhecimentos mais abrangentes do que normalmente é apreendido na escola. Finalmente, reitero o entendimento das crianças como sujeitos sociais competentes para falarem por si e de si próprias, produtoras de culturas e não meramente reprodutoras das culturas adultas, portanto, informantes privilegiados nas pesquisas educacionais voltadas à busca de uma compreensão legitimadora da infância, o que permite considerar a importância do diálogo com as crianças como possibilidade de construir uma escola mais atenta e sensível às especificidades das infâncias, principalmente concernente à organização dos tempos e espaços escolares, com vista a melhor atender às necessidades das crianças na garantia de seus direitos sociais e de uma educação de qualidade. |