Abstract:
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Este trabalho procura fazer uma reflexão crítica sobre a correspondência mantida entre D. Pedro II e a condessa de Barral nos anos de 1859-1890. A correspondência entre os dois se caracteriza como um gênero híbrido, diários-cartas/cartas-diários, literatura de viagens, autobiografia, narrativa romanesca, notícia, variedades e crônica de costumes. Trata-se de um estudo que enfoca e questiona a maneira como os sujeitos se colocaram na correspondência, já que transgrediram a tradição de seu grupo social e sua época; e procura analisar as singularidades dos discursos que esses personagens elaboraram através do diálogo epistolar. Parte-se da compreensão de que as interpretações sobre a correspondência foram fortemente influenciadas pela predominância de um discurso histórico marcado pelo paradigma científico moderno, que além de perpetuar a separação entre sexualidade e afetividade, privilegiou a racionalidade em detrimento dos sentimentos, do imaginário social e das sensibilidades. Em decorrência dessa mentalidade cientificista, as relações paralelas ao estudo das instituições formais, como a amizade, o amor, o erotismo, por exemplo, foram negligenciadas. E muito mais do que negligenciada, a amizade entre homens e mulheres foi alvo de uma longa e negativa tradição filosófica que influencia até hoje muitas interpretações das relações entre os sexos. Investiga a relação entre a correspondência e as biografias produzidas, procura analisar as relações entre a escrita epistolar, a construção e a transformação de si, mostrando as singularidades do vínculo criado por eles ao mesmo tempo em que discute as possibilidades e limites das questões do erotismo, do amor e da amizade no quadro de suas significações históricas e culturais, como produtos sociais e discursivos que são. |