Abstract:
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Esta pesquisa tem por objetivo identificar, analisar e interpretar as vozes que constituem o discurso dos professores da disciplina de LP, na Educação Básica, quando são chamados a se posicionar nos processos de reestruturação curricular desencadeados institucionalmente. O aporte teórico que orienta nosso olhar vem dos estudos do Círculo de Bakhtin sobre alguns fenômenos constitutivos da comunicação discursiva, como linguagem, enunciado, discurso, dialogismo, autoria e excedente de visão, bem como de outros referenciais que foram incorporados ao trabalho, de acordo com a sua relevância para a discussão e interpretação dos dados. O caminho metodológico para a constituição dos dados foi a pesquisa de cunho interpretativista, configurando uma opção pela abordagem qualitativa. Os dados foram gerados no acompanhamento de parte de um processo de reestruturação curricular desenvolvido no espaço institucional da esfera escolar, predominantemente nas reuniões de disciplina/projeto, realizadas nos anos de 2006 e 2007. Os participantes da pesquisa são oito professores de Língua Portuguesa que atuam no Colégio de Aplicação-CED/UFSC. Para proceder à análise dialógica dos discursos dos professores, nossa opção foi por considerá-los na sua condição de enunciados. Dessa forma, partimos da ordem metodológica proposta por Bakhtin (VOLOCHINOV) (1929/1992) e realizamos nossa incursão nas falas dos professores pelos elementos extraverbais da constituição do enunciado: cronotopo, interlocutores e tema(s), os quais são indissociáveis de sua materialidade verbal. Na triangulação desses três aspectos da situação imediata de produção dos discursos, constatamos que o professor tem pouca autonomia para interferir nas decisões sobre aspectos macroestruturais do currículo, como o sistema de recuperação de estudos e a grade curricular. Por outro lado, nas discussões sobre o currículo da disciplina de LP, vimos a emergência de um discurso de autoridade do professor, respaldado e respeitado pela instituição. No discurso dos professores não se encontra uma análise ou interpretação dos documentos oficiais de uma época ou do currículo formal/oficial de uma época, mas uma fala que representa uma posição ocupada, numa determinada época: posição do ser professor de LP na Educação Básica. O discurso do professor sobre o currículo específico da disciplina mostra que ele mobiliza um coro de vozes alheias no seu trabalho de elaboração didática. Ao falar sobre esse processo, o professor vai explicitando a relação que ele estabelece no diálogo com as outras vozes que constituem a sua prática e atravessam o seu discurso sobre a prática. Não uma prática exclusivamente empírica, mas uma prática pautada na interação com os interlocutores privilegiados, que são os alunos, e ressignificada pelos discursos vindos de outras esferas: academia, documentos oficiais, discurso político, família entre outros. Pela descrição densa e escuta dialógica das falas dos professores, foi possível chegar - mais do que às vozes alheias que constituem o discurso do professor - à voz do professor, ou seja, à posição de autoria-professor, e ao excedente de visão que constitui o ser-professor: o aluno. O discurso do professor no processo de reestruturação curricular é extremamente marcado pelo ato de ser professor, que se realiza no acontecimento da aula, na interação com o outro, que é o aluno. |