Abstract:
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Este trabalho pretende ser uma reflexão sobre as transformações na paisagem, decorrentes dos novos padrões arquitetônicos e urbanísticos que vêm sendo implantados na cidade litorânea de Balneário Camboriú/ SC, principalmente após a década de 1990. Localizada a 92 km de Florianópolis, Balneário Camboriú desenvolve-se como local de lazer do empresariado industrial do Vale do Itajaí. A ocupação de sua orla registra, assim, as necessidades de representação social das classes dominantes locais, incorporando à paisagem um conjunto de signos que vêm se transformando, concomitantemente, com o próprio significado do processo de acumulação econômica. Praticamente isolada do contexto regional até a década de 1920, foi com a abertura de uma estrada de rodagem até o porto de Itajaí que a evolução urbana na orla de Balneário Camboriú tomou impulso. Por esta estrada, os descendentes da colônia alemã do Vale do Itajaí chegaram a então praia de Camboriú, como alternativa de ocupação frente à restrição espacial da praia de Cabeçudas, localizada nas proximidades do molhe do porto. Responsáveis pela introdução do banho de mar como atividade social, sua influência foi além do turismo de veraneio e do advento da segunda residência, com participação no processo de acumulação de riquezas (comércio e hotelaria) e na produção do espaço (construção civil e loteamentos). Com a emancipação político-administrativa e a aquisição do nome de Balneário Camboriú na década de 1960, aliado ao marketing proporcionado por ações do ramo hoteleiro e as melhorias de acesso da década de 1970, o turismo em massa ultrapassou o contexto regional. Com o aumento da procura por uma vaga à beira mar, a propriedade passou a ser utilizada como fonte de renda, na mesma proporção em que a cidade se verticalizava. A desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar, base da economia argentina na década de 1980, fez com que os turistas argentinos investissem no mercado imobiliário local. Todos estes fatores proporcionaram uma evolução urbana não linear, compactando em um curto espaço de tempo o processo de urbanização. Esta mercantilização do espaço evidenciou uma falta de identidade com a própria história do lugar, com reflexos na paisagem urbana e, intrinsecamente, nas relações sociais, principalmente na Avenida Atlântica (beira-mar). Dentro deste contexto, Balneário Camboriú extrapolou a questão do consumo do lugar, passando também a exercer o papel de lugar de consumo, principalmente com a tendência a não sazonalidade iniciada na década de 1990, última ruptura espaço-temporal significante e que, desde então, tem influenciado os atuais padrões arquitetônicos e urbanísticos da paisagem da Avenida Atlântica. Partindo do pressuposto que o espaço se define como resultante de relações sociais e que a paisagem, então, é a materialização visual da sociedade em seus diferentes momentos históricos, pretende-se analisar a beira mar de Balneário Camboriú além dos aspectos formais, como construção de sínteses totalizadoras, observando uma via de mão dupla entre considerações gerais, de cunho sócio-espacial, e considerações particulares, de cunho local. Relendo a Avenida Atlântica, é possível reconstituir, a partir do patrimônio arquitetônico e urbanístico, a relação entre espaços públicos e privados e seu processo de ocupação, com a evolução das práticas sociais que marcaram a paisagem como elemento de representação (social). |