Abstract:
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Este trabalho objetivou conhecer e analisar as relações sociais constituídas com bebês e entre eles num espaço público de educação infantil, com atenção às diferentes dimensões sociais que as determinam (geração, classe social, gênero e etnia). Realizou-se um estudo de orientação etnográfica, num grupo de 15 bebês, com idade entre 4 meses e 1 ano e 3 meses, numa creche pública municipal de Florianópolis, durante oito meses, na perspectiva de conhecê-los a partir de suas ações em contexto. Os dados foram obtidos por meio de filmagens, fotografias e registros escritos diários, sistemáticos e contínuos, o que resultou num inventário de ações e relações estabelecidas pelas e com as crianças pequeninas no espaço da creche. Antes e durante a pesquisa empírica foram realizadas outras ações: levantamento da produção cientifica sobre e com os bebês, que auxiliou na identificação do lugar social que eles vêm ocupando historicamente; consulta aos documentos legais e estatísticos da população infantil e matrícula de bebês em creches no Município de Florianópolis e ainda entrevistas com os profissionais da sala, com a direção da creche e com as famílias, de forma a constituir uma aproximação mais contextualizada da vida das crianças pesquisadas. Na análise dos dados, recorreu-se a uma interlocução disciplinar, envolvendo as contribuições das Ciências Sociais, especialmente da Sociologia da Infância e da Antropologia da Criança, da Filosofia da Linguagem do russo Mikhail Bakhtin e seu círculo, da Psicologia e da Pedagogia da Infância, numa perspectiva teórico-crítica que toma como base a constituição sócio-histórica das crianças e da infância, considerando a agência dos sujeitos nas relações sociais. As análises indicaram o estabelecimento de múltiplas relações dos bebês na creche, envolvendo os adultos, outros bebês, crianças maiores, atravessados pelas condições materiais e significações desse espaço. Indicaram também que as ações pedagógicas de cuidado, além de representarem encontros próximos entre adultos e crianças, proporcionam concomitantemente um tempo e espaço em que os demais bebês se relacionam entre si e com o ambiente, implicando a necessidade de uma preocupação para além da ação direta dos educadores, mas também sobre a sua ausência/distanciamento frente ao grupo. Os bebês, dentro de suas possibilidades de desenvolvimento, se relacionam utilizando diversas expressões comunicativas (choro, sorriso, movimento/gesto, sons, palavras...), que vão sendo ampliadas e significadas na relação constituída no coletivo. Ainda que consideremos a alteridade das crianças pequenas, suas relações são atravessadas pelo compartilhamento de regras e significações da convivência coletiva e institucional, que ora amplia, ora restringe, ora potencializa, ora nega as suas capacidades de agência na relação com os outros, no movimento dialógico que define as relações humanas. |