Abstract:
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Pensar a literatura de Mário de Sá-Carneiro é enveredar por um contexto densamente elaborado. Há os arroubos dos modernistas portugueses - tão bem conectados - que ele e Fernando Pessoa exploraram com maestria, seja em seus projetos pessoais, seja na Revista Orpheu, projeto que desenvolveram em comum. Além disso, há o desenvolvimento de um eu-lírico melancólico, à beira de um abismo de sentimentos. Enquanto Pessoa estava em Lisboa e Sá-Carneiro, em Paris, os dois poetas mantiveram intensa correspondência. Dessas cartas, são conhecidas as enviadas por Sá-Carneiro, as quais extrapolam os limites do pessoal e apresentam fruição poética, uma espécie de arcabouço literário, a que se articula Dispersão - conjunto de poemas publicado em 1915. A melancolia é encontrada também nas linhas consideradas como palavras do próprio Sá-Carneiro em diálogo com o amigo. É aí que a sobreposição literário/extraliterário se evidencia; é aí que ambas as instâncias dialogam. Se as cartas têm notadamente cunho pessoal e os poemas estão no campo do ficcional, as armadilhas da escrita ali tomam corpo, levando o leitor a aproximar ficcional e biográfico, tomando-os por uma escrita confessional, corroborada pelo suicídio do poeta, dado que acaba sendo considerado o elo necessário para dar respaldo a tal leitura. |