Abstract:
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A pesquisa teve como objetivo caracterizar as vivências, concepções e estratégias de enfrentamento psicológico de médicos oncologistas clínicos. O estudo de natureza exploratório-descritivo se desenvolveu sob a perspectiva da metodologia qualitativa e realizou-se em um centro de atendimento e pesquisa em oncologia, serviço de atenção terciária, referência no sul do país. Os participantes foram 12 médicos oncologistas clínicos e a coleta de dados foi realizada através de observação participante com registro em diário de campo e entrevista semi-estruturada. Os resultados da análise foram sistematizados em sete categorias, as quais representam as regularidades e aspectos diferenciais presentes nos dados, e que tentaram abarcar a dinâmica e complexidade da prática profissional dos participantes. Constatou-se que a escolha pela medicina e oncologia foi perpassada por questões pessoais, influenciadas pela família; por profissionais de referência na área e por noções idealizadas. Observou-se a forte presença de sentimentos ambivalentes, diante do paciente, do contexto institucional, e do sistema de saúde pública. Percebeu-se que o uso das estratégias de enfrentamento psicológico despontou como tentativa, mais individual, do que coletiva, para melhor lidar com este universo. Entre estas, encontraram-se a utilização de estratégias: a) focalizadas no problema, relacionadas ao manejo, tentativa de resolução e reavaliação da situação; b) focalizadas na emoção, tais como o uso de medicação/álcool, recurso de evitação da emoção, atividades de lazer e práticas de auto-cuidado; c) estratégias voltadas à espiritualidade, muito mais do que a adoção de uma prática religiosa e, d) de suporte social, caracterizando-se mais por um suporte voltado as questões pragmático-profissionais, do que pessoais. Constatou-se que a prática do oncologista clínico, muitas vezes, coloca o profissional diante de constantes situações de imprevisibilidade, dor, morte e sofrimento humano. Isto deixou em evidência as lacunas da formação médica que ao enfatizar os aspectos orgânicos e físicos da doença, relega a segundo plano, tanto os aspectos individuais e intersubjetivos presentes na prática, como as ressonâncias desta na vida pessoal/familiar do médico e vice-versa. Assim, considera-se necessário um real investimento institucional e de políticas de saúde do trabalhador, no intuito de melhor acolher estes profissionais que, metaforicamente, no seu cotidiano, se encontram no fio que divide a vida e a morte. |