Abstract:
|
A relação educação e trabalho, na atualidade, evidencia-se como problema teórico e empírico de abrangência ampla e profunda. De um histórico em que escola e empresa se dedicavam a atividades, que guardavam relação com suas características e peculiaridades, passa-se a uma situação em que essa relação é submetida a uma espécie de intransparência que se materializa na dificuldade de discernir qual é a especificidade de cada uma dessas instituições. É neste contexto, que até a própria existência da escola é questionada por parte de autores que criam ou reforçam argumentos de que a sociedade deve ser desescolarizada ou de que a escola deve submeter-se às necessidades pragmáticas e imediatas do mundo da produção. Nesta pesquisa, de caráter bibliográfico e com alguns aportes da empiria, procuramos analisar os mecanismos da constituição da importância e (in)prescindibilidade da instituição escolar para a inserção dos seus freqüentadores ou dos egressos dela, no mundo do trabalho. Inicialmente, focalizamos o período compreendido entre a década de 1960 e o início do século XXI, dando destaque à obra Sociedade sem escolas de Illich e à sua veemente defesa da "desescolarização da sociedade". Em seguida, direcionamos a nossa atenção a obras de administradores que, para além do seu metier gerencial, se voltam a analisar a importância da educação para a chamada "Sociedade do Conhecimento" e a fazer prescrições de como deve funcionar a escola para ser útil às demandas do mercado. Entre esses destacamos as contribuições de A. Toffler, P. Drucker e P. Senge. Estes autores que poderiam também ser caracterizados como partidários da Teoria do Capital Humano (TCH) revisitada, não pregam a extinção da escola, mas sim, sua empresarialização no sentido de que venha atender as necessidades imediatas do mercado. Na contracorrente desses autores, destaca-se C. Laval afirmando categoricamente que a "escola não é uma empresa". Esta polarização veio se mostrando pouco fecunda em termos de análise, o que nos direcionou a buscar sua superação por meio das profícuas reflexões e propostas de D. Saviani que indica a urgente necessidade de que se recupere a "especificidade da educação". Isto significa que à escola e à educação competem inadiáveis responsabilidades, que têm a ver com o presente, o passado e o futuro, distanciando-se ou procurando não se submeter aos estreitos limites, de origem empresarial, relacionados àquilo que é pragmático e imediatamente aplicável. As entrevistas com os gestores, de outra parte, explicitaram o quanto as proposições dos administradores estão entranhadas na teoria e na prática da gestão e como a TCH é atual e operacional quando se procura trabalhadores e se oferece a estes treinamentos para que se adequem às demandas do mercado nos reclamos deste por empreendedorismo e empregabilidade. Destacamos, por fim, que, mais do que no período em que se falava de categorias como desescolarização ou reprodução, hoje é necessário que se resgate a escola e a educação, para além dos restritos conceitos com os quais o mercado e seus ideólogos prescrevem qual deve ser o papel da escola para atender as demandas imediatas do mundo da produção. |