Abstract:
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Este trabalho enfoca as trajetórias de vida de indivíduos pertencentes a uma unidade geracional constituída de jovens rurais militantes que experienciaram a formação política oriunda da Teologia da Libertação (TL) na Diocese de Chapecó, Santa Catarina, na década de 1980, e que atualmente estão inseridos de diferentes maneiras em diversas instituições e ativismos políticos. Abordam-se especificamente as conseqüências das práticas pedagógicas e políticas empreendidas pela TL junto à juventude rural, as concepções de juventude elaboradas por essa corrente religiosa e os significados que os indivíduos atribuíram ao processo de formação política por eles vivenciado. Adotaram-se como estratégias metodológicas narrativas de histórias de vida e a análise documental de material didático "nativo", produzido pela TL e utilizado na formação de lideranças juvenis. Constatou-se que a Teologia da Libertação, paralelamente a outros fenômenos, representou uma das faces da modernização do campo - na resistência ao modelo modernizador capitalista, engendrou novas relações sociais, efetivadas sobretudo no setor juvenil, possibilitando vivências intelectuais favoráveis ao surgimento de indivíduos reflexivos que se distanciaram dos parâmetros tradicionais que regiam as comunidades. Contudo, a TL não fugiu à regra de toda instituição moderna na relação com os jovens, ou seja, foi adultocêntrica e instrumentalizadora, desautorizando a autonomia plena dos sujeitos. Também se percebeu que o ideário inicial da unidade de geração pesquisada - inspirado na simbologia revolucionária dos anos sessenta e voltado para a transformação profunda da sociedade - ao longo do tempo cedeu lugar à luta pela conquista de direitos e à ocupação dos espaços da institucionalidade política; ao mesmo tempo o sentido atribuído à política foi sendo alterado: inicialmente vivida como paixão, passou a ser instrumento pelo qual os "ex-jovens" organizam a viabilidade de suas carreiras ocupacionais. |