Abstract:
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Considerando a preponderância do lugar ocupado pelo trabalho no processo de viver dos trabalhadores e na construção da sua identidade profissional, esta tese teve como objetivo compreender como o psicólogo constrói sua identidade profissional, a partir de suas vivências enquanto ser humano trabalhador e dos significados que atribui à sua profissão. Mediante uma abordagem qualitativa, com trabalho de campo, do tipo multicasos, no período de setembro de 2003 a abril de 2004, a pesquisa utilizou como técnicas de levantamento de dados a entrevista semi-estruturada e, complementarmente, registros gráficos livres. Os participantes foram trabalhadores psicólogos do município de Florianópolis, de ambos os sexos, que se encontram no exercício da profissão, nas suas diversas áreas de intervenção, com mais de cinco anos de formados. No processo de análise houve a identificação de categorias referentes ao significado de ser psicólogo, à escolha pela Psicologia como profissão, às vivências profissionais da trajetória e ao significado dessa trajetória na construção da identidade profissional. Ser psicólogo significa ajudar as pessoas, atuando em relações interpessoais específicas que permitam conhecer e compreender sua essência e seu comportamento. Escolher Psicologia decorreu de elementos da história pessoal, da detenção de características, capacidades e habilidades, do gosto em lidar com pessoas e, até, da expectativa de resolução dos próprios problemas. A trajetória profissional foi iniciada pela busca por inserção no mercado de trabalho, que se apresentou como um momento de dificuldades, principalmente relacionadas à insegurança e ao despreparo para atuar, no qual se constatou a insuficiência do preparo acadêmico. Foram buscadas pelos trabalhadores as seguintes "ferramentas" de apoio: supervisão, psicoterapia e cursos de formação. O cotidiano de trabalho em Psicologia é caracterizado pela diversidade de tarefas e pela dualidade cansativo, pesado e "insano", por um lado, e gratificante, rico e desafiador, por outro. A trajetória de trabalho significou a possibilidade de dar maior consistência à identidade profissional, a partir dos elementos de base do momento da escolha, da formação acadêmica, dos estágios e da própria experiência pessoal. Do processo de análise, reflexão e síntese dessas categorias emergiram como temas "os impasses entre o querer ser, o saber, o fazer e o saber-fazer" e "o fazer transformando o ser". A análise permitiu compreender o processo de construção da identidade profissional do psicólogo na perspectiva do desenvolvimento e transformação do ser trabalhador pelo seu fazer. Essa transformação, que se expressa no modo como a profissão "impregnou" a vida pessoal dos psicólogos, produzindo modificações em sua percepção de mundo, em seus valores e na própria postura diante da vida, foi um processo que envolveu um movimento constante de construir-desconstruir-reconstruir significados da profissão, e que implicou reconhecer e assimilar as "metamorfoses" ao longo do percurso profissional. Os dados encontrados podem constituir-se em elementos de reflexão às agências formadoras e aos Conselhos Profissionais, inclusive de outras profissões. Para a Ergonomia, esses dados podem indicar a necessidade de ser mais bem considerada a questão da identificação entre o trabalhador e a atividade profissional que desenvolve, como forma de aprofundar sua apreensão de questões a respeito da relação homem-trabalho. |