Abstract:
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Nesta dissertação, é proposta uma discussão, sob a égide do feminismo, a respeito do cânone - visto como uma estrutura de exclusão - e a noção de valor literário e estético aplicada às obras de escritoras(es) não-canônicas (os) e mais especificamente, à obra poético-erótica de Gilka Machado. É trazida uma versão historiográfica das condições em que viviam as mulheres no Brasil durante os trinta primeiros anos do século XX - a chamada Belle Époque - e sobre os discursos formadores e práticas vigentes na época. Além disso, analisou-se a relação entre a proposta da Nova Mulher, defendida pelas feministas européias e norte-americanas, a qual seria independente em todos os campos, inclusive no exercício de sua sexualidade, e a representação do sujeito lírico da poesia de Gilka Machado. Elaborou-se ainda um texto relacionando a vida e a obra da poetisa. A seguir, há uma leitura da poesia da autora em questão, destacando valores estéticos feministas, a presença do erotismo desvelado, um tema até então nunca utilizado por mulheres na história da poesia lírica brasileira, sendo destacadas a apresentação do sujeito lírico no feminino como sujeito do desejo, a transgressão dos valores conservadores sob a conduta sexual das mulheres, que estavam sendo ideologicamente implantados, e a contradição, representada pela afirmação em alguns versos dos mesmos valores conservadores que estavam sendo combatidos em outros poemas. Entretanto, a pesquisa revela que a poesia de Gilka Machado apresenta um caráter inovador e até mesmo antecipador de pressupostos existencialistas que somente vieram a ser amplamente desenvolvidos por Simone de Beauvoir nos anos 40 e 50. |