Abstract:
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Análise da poética intercultural de Elizabeth Bishop, elaborando uma percepção expansiva de dissonância ou choque cultural, que problematiza os próprios termos através dos quais o pensamento antitético reduz a realidade experiencial. Demonstra inter-relações entre os textos teórico-críticos de Bishop, que engajam sua crise com a concepção linear do tempo narrativo, e a concepção de 'dissonância emancipatória' ou atonal elaborada por Arnold Schöenberg. Demonstra que os mapeamentos de dissonância cultural feitos por Bishop no Brasil desafiam seus próprios modelos esteticistas e solucionistas (lineares, teleológicas) de representação (especificamente, os modelos de transculturalismo e autenticismo), ao se recusarem a resolver a alteridade (do outro e do eu) na uniformidade (consonância), ou mesmo a dissolver seus conflitos, fixando a alteridade num 'passado atemporal' (sic), primitivizado. Examina a crise (a crítica) textual de consciência social e de gênero no corpus brasileiro de Bishop, argumentando que ele se torna valioso justamente porque a autora fracassa, e de modo perturbador, em realizar seu projeto de produzir resolução sobre suas percepções dissonantes da realidade. Engaja uma política irredutível ou ética de leitura que recusa reduzir o texto intercultural de Bishop a seus discursos solipsistas, pelos quais até mesmo atos aparentemente democráticos convergem dissimuladamente com dinâmicas totalitárias. |