Abstract:
|
Este trabalho é um estudo etnohistórico dos deslocamentos territoriais de famílias Mbyá e Chiripá Guarani. Através da coleta de narrativas e da elaboração de histórias de vida, analiso as categorias nativas relacionadas a estes deslocamentos. Divido os exemplos de deslocamentos territoriais em dois tipos principais, trabalhando com os conceitos de mobilidade e migração para distinguir circularidade entre aldeias e movimentos migratórios. A inserção destes dados à discussão teórica sobre a busca da terra sem mal dá-se pela confirmação de que há um forte substrato cosmológico na instauração e ordenação destes movimentos. Porém, meus dados apontam que a deflagração de um deslocamento passa pela associação de vários outros motivos, como questões políticas e familiares. Os eventos que aparecem como deflagradores de deslocamentos com mais recorrência são os problemas com suas terras: ausência de demarcação, conflitos gerados por coabitação com outras etnias, expulsão e violência por parte da sociedade nacional. Outra recorrência são os deslocamentos realizados com a finalidade de estruturar redes de reciprocidade e arranjos matrimoniais que deslocam vários jovens em idade de casamento. Neste contexto, os deslocamentos territoriais mostram-se também como estratégias de manutenção de seu modo de ser, de seu "sistema" cultural, o nhanderekó, perante as inúmeras situações adversas a ele que as famílias Guarani enfrentaram e têm enfrentado. |