Abstract:
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No texto dramatúrgico, escrito para ser encenado, estão contidas, por meio das rubricas do artista dramaturgo, todas as diretrizes para sua concretização cênica, que ficará a cargo dos diretores e atores, artistas da encenação. Devido a esse fato singular que une duas formas artísticas distintas, a relação teatro e literatura apresenta-se íntima e complexa. Ao tentar interpretar o movimento do escritor na obra dramática implica o levantamento da questão do teatro e as singularidades que o diferenciam da literatura enquanto formas estéticas definidas. No conjunto das dezessete peças que compõem a obra dramatúrgica de Nelson Rodrigues, desfilam conflitos humanos intensificados pela profunda caracterização psicológica dos personagens. É inegável em sua obra as marcas do repórter policial, hábil observador social, e do leitor atencioso dos clássicos da dramaturgia moderna. Estas constatações geraram algumas indagações acerca das influências que o autor teria sofrido ao compor um universo ficcional tão intenso de humanidade e emoção. Por isso, rastreando suas Memórias, entrevistas e biografias, bem como os dramaturgos seus precursores, busca-se a compreensão das diretrizes que nortearam sua criação. O teatro de Nelson Rodrigues tem sido classificado pelo próprio autor e pela crítica geral de 'tragédias cariocas'. Por isso, fazem-se algumas incursões aos estudos dos elementos trágicos na obra de arte, da clássica à moderna, a fim de legitimar ao autor o conceito de tragicista. Entendendo que na base dos conflitos explorados pela dramaturgia rodrigueana, encontra-se a questão da sexualidade do indivíduo em confronto com a moral preconizada pela sociedade, busca-se a origem e questiona-se o valor dessa norma moral que, embora instituída para organizar os comportamentos sociais pode, muitas vezes, gerar conflitos abissais para o homem frente ao mundo que o rodeia. |