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As Ciências da Administração desenvolvem-se a partir do período monopolista do capital, nos primórdios do século XX. Contudo, durante muitos anos a produção acadêmica neste campo do conhecimento desconsiderou a negação aos postulados de supremacia técnica e ideológica ao quais as origens da Administração vinculam-se. No presente trabalho, me esforço em discutir a resistência aos padrões hegemônicos de organização do trabalho em uma organização cultural cujo objetivo não tem ligação com o mercado, mas com a luta revolucionária cubana: a Associação Cultural Jose Martí de Santa Catarina. A organização é analisada em suas práticas organizativas e, como o foco é resistência, busco analisar a resistência como um processo histórico de recusa não a uma forma ou prática memeticamente dominante, mas econômica e politicamente dominante em um tempo histórico cujos imperativos de reprodução do capital se estendem para além da empresa (típica forma de organização do trabalho da sociedade capitalista) por uma necessidade do próprio capital. Necessidade esta que é imposta aos demais seres humanos, uma vez que a produção da vida humana está obrigada, nessa sociedade específica, a uma mediação alienada de segunda ordem. Assim, para tentar apreender minimamente o processo de resistência e luta da Jose Martí pela solidariedade, amizade e autodeterminação dos povos, tive de decompor o conceito de resistência e busquei o que seriam seus elementos constitutivos, a saber: (a) a contra-hegemonia e a resistência; (b) a ascensão do capitalismo e a postulação científica das formas e práticas de gestão (a Administração); (c) a gestão como forma de subsunção de um tipo específico de trabalho; (d) o tipo específico de trabalho como uma manifestação histórica (e, portanto, mutável, não perene, não determinada naturalmente), logo construída pelos seres humanos; (e) o trabalho como algo mais que o trabalho no capitalismo; (f) o capitalismo como um modo de produção orgânico de domínio do capital; (g) o capital como uma relação social histórica de dominação estrutural do trabalho; (h) o trabalho como fenômeno originário do ser social; (i) o ser social não como, simplesmente, um ser diferente dos demais, mas como um ser ontológico, parte da natureza, que, assim como a vida orgânica é precedida pelas formas de organização inorgânica da matéria, e que, assim como a manifestação orgânica já surge com a capacidade de reprodução, o ser social é precedido por ambas manifestações e já surge com a capacidade ontológica de trabalhar. Após, retomo a discussão sobre resistência, me atendo ao caso específico e em sua relação com essa totalidade. |
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