Abstract:
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Diversamente do que ocorre com a grande maioria dos autores de matiz marxista, João Bernardo (1946 -) defende que uma terceira classe social - tão fundamental quanto à burguesia e o proletariado - faria parte da estrutura e dinâmica íntimas do modo de produção capitalista: a classe dos gestores. Este trabalho examina o universo teórico do autor a partir dessa polêmica proposição. Para o pensador e militante político português, a afirmação da existência dos gestores é feita em conformidade à teoria da mais-valia marxiana, embora sejam necessárias algumas opções e ajustes perante as contradições inerentes à obra magna do clássico. Esta hipótese, no entanto, arrasta consigo um conjunto bem particular de redefinições e conceitos que nos permite inscrevê-lo numa linhagem heterodoxa do marxismo; caracterizada por centrar sua análise no âmbito das relações sociais de produção e não no das forças produtivas. Nesse sentido, houve uma cuidadosa leitura da obra (publicada e não publicada) de João Bernardo, e a incursão por diferentes passagens importantes de Marx e Engels. A revisão bibliográfica em que consistiu a pesquisa buscou também fazer o levantamento de outros autores que, - apesar das evidentes controvérsias entre si - por terem já abordado a matéria dos gestores, compuseram e transmitiram, em diferentes graus, o contexto teórico para a formulação bernardiana. Conclusivamente, procuramos realçar as peculiaridades principais que fazem dessa teoria de classes um sistema diferenciado em relação às demais - compreendida, porém, com bases ainda essencialmente marxistas; além de indicar algumas problemáticas contemporâneas, vinculadas à dinâmica dos conflitos sociais, para cuja análise o quadro conceitual apresentado se mostrou bastante fecundo. |