Abstract:
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Esta pesquisa buscou descrever como é #o morrer# em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e explicar como esta morte condiciona os pacientes e impacta o trabalho dos profissionais de saúde. Foi realizada em uma UTI de adultos, no Estado de Santa Catarina. Adotou uma visão interdisciplinar que incorporou, em maior espaço, os aspectos sócioantropológicos da morte e do morrer. A observação sistemática foi a técnica utilizada para a coleta de dados, possibilitando a identificação dos fenômenos e o companhamento do processo de morrer em cada momento de suas inseparáveis etapas. A influência da morte sobre o comportamento/sentimento da equipe foi percebida nas falas de interlocutores-chaves que vivenciam cotidianamente a morte na UTI, como parte de suas profissões. A análise dos dados foi ancorada na sociologia clássica weberiana e apoiada no pensamento foucaultiano para compreender as relações de poder que se estabelecem e se entrecruzam na UTI, aqui vista como um não-lugar, incorporando a percepção da sociologia e antropologia, especialmente em Augé. Estão presentes, também, alguns recortes da sociologia da técnica, sem deixar de lado a sociologia das emoções ao tratar do luto e da morte digna. A concepção de modernidade tardia de Giddens dá o referente da contemporaneidade, onde os valores consagrados são questionados pela incorporação tecnológica presente na UTI, que não discute nem percebe o ser humano, mas o corpo objetificado. A morte que acontece na UTI é como se fosse um desligamento silencioso da vida, uma saída #à francesa# sem despedidas. Não é como a morte domesticada descrita por Ariès, mas uma morte esquecida por todos, no isolamento do seu espaço/leito, com exceção dos que morrem passando mal e mobilizam a equipe para um embate com a morte tentando mantê-lo vivo. Não há outra forma de morrer: ou no silêncio da solidão ou no fragor da luta, na arena do embate quando a equipe é #derrotada#, permanecendo na interface cinzenta entre a luz e as trevas, entre vida e morte, até a consumação do fato. O doente em situação terminal é olhado no Panópticon da UTI, mas não é visto nem percebido por esses olhares da equipe de saúde. Os que deveriam olhá-lo, os que estão lá fora, seus familiares, parentes e amigos, só saberão de sua morte após o evento ter-se concluído. A morte por mim observada não é a única morte que acontece na UTI, outras mortes antecedem, desde a entrada na UTI quando ocorre o desligamento do doente do lugar social onde vive para ser colocado em um não-lugar. Sua identidade será um número no prontuário formalizando uma morte social. A sua relação com o outro será reduzida à uma espetacularização na tela do monitor onde os gráficos e números falarão por ele, ainda mais quando sedado e intubado. Ocorre, assim, o que chamo de morte familiar, pois para muitas famílias ele já está praticamente morto, pois não pode conversar, apenas olhar, acariciar e monologar no sussurro quase choroso do desespero. This study sought to describe how #death# is in an Intensive Care Unit (ICU) (Unidade de Terapia Intensiva - UTI) and to explain how death conditions the patients, as well as impacts the work of health care professionals. The study was carried out in an ICU in the state of Santa Catarina, Brazil. It adopted an interdisciplinary perspective which incorporated to a greater degree the socio-anthropological aspects of death and dying. The technique utilized for data collection was systematic observation, making it possible to identify phenomenon and accompaniment of the death process in each moment of its inseparable stages. The influence of death on team behavior/sentiment was perceived in the speech of key speakers who lived death as a daily part of their professional practice in the ICU. The data analysis was anchored in classic Weberian sociology and supported by Foucault thinking in order to comprehend power relationships that are established and mix together in the ICU, seen thus as a non-place, incorporating such sociological and anthropological perception, especially in Augé. Some extracts of the technique of sociology are present here, without ignoring the sociology of emotions when dealing with grieving and dignified death. Giddens# conception of delayed modernity gives reference to contemporarily, where consecrated values are questioned through the incorporation of technology present in the ICU, which does not discuss or perceive the human being, but an objectified body. Death which occurs in the ICU is like a silent disconnection from life, a #French# exit with no goodbyes. It is not like the domesticated death described by Aries, but a death forgotten by all in the isolation of their space/bed, with the exception of those who die under duress and thus mobilize the team in a conflict with death, attempting to keep the patient alive. There is no time or way to die: either there is silence of solitude or the din of a fight in the arena of such conflict when the health care team is #beaten#, remaining in the grey interface between the light and the darkness, between life and death, until the fact is consummated. The terminally ill are observed in the Panopticon of the ICU, but is not seen nor perceived by these glances from health care team members. Those who should see them, those who are outside, their family members, relatives, and friends will only learn of the patient#s death after the event has passed. Death as observed by the author is not the only death which occurs in the ICU. Other deaths come before it, since entering the ICU, the patient is disconnected from the social place in which they live and placed in a non-place. His/her identity will be a number on a hospital chart, formalizing a social death. His/her relationship with others will be reduced to a spectacularization on the monitor screen where graphs and numbers will speak for him/her, all the more when sedated and on life support. Thus, what I call familiar death occurs, for to many families the patient is practically dead already, without the ability to converse; just able to look, caress, and monologue in a desperate almost crying whisper. |