O ataque à creche em Blumenau-SC na mídia mainstream e nos públicos refratados no Telegram

Abstract

Esta dissertação realiza uma análise de recepção do ataque escolar ocorrido em Blumenau (SC) em 2023, investigando como diferentes audiências constroem narrativas sobre o evento em ambientes digitais. O estudo compara duas esferas discursivas: a mídia mainstream e públicos refratados (Abidin, 2021) no aplicativo de mensageria Telegram. A pesquisa adota uma abordagem metodológica híbrida, combinando a inspiração etnográfica e análise de dados, para compreender as dinâmicas interacionais desses grupos e a arquitetura algorítmica do Telegram, que favorece a circulação de desinformação e dificulta a moderação de conteúdo. Analisa-se a cobertura jornalística, que muitas vezes reforça discursos alarmistas e molda a percepção pública dos ataques. Simultaneamente, examinam-se as práticas discursivas dos públicos refratados, que mobilizam teorias conspiratórias, discursos anti-imprensa e narrativas de desinformação para ressignificar o ataque. A pesquisa identifica estratégias adotadas para contornar políticas de moderação, como o uso de linguagem codificada, migração para plataformas menos regulamentadas e o flamebaiting. Os resultados revelam os desafios da regulação da desinformação em plataformas digitais, destacando o papel das affordances do Telegram e das práticas comunicativas dos públicos refratados na amplificação de discursos polarizados e de ódio. Este estudo contribui para a compreensão das disputas narrativas em ecossistemas informacionais híbridos e oferece insights para políticas públicas voltadas ao enfrentamento da desinformação.

Abstract: This dissertation conducts a reception analysis of the school attack in Blumenau (SC) in 2023, investigating how different audiences construct narratives about the event in digital environments. The study compares two discursive spheres: the mainstream media and publics refracted (Abidin, 2021) on the messaging app Telegram. The research adopts a hybrid methodological approach, combining ethnography inspiration and data analysis, to understand the interactional dynamics of these groups and Telegram's algorithmic architecture, which favors the circulation of disinformation and hinders content moderation. News coverage is analyzed, which often reinforces alarmist discourses and shapes public perception of the attacks. At the same time, it examines the discursive practices of publics refracted, who mobilize conspiracy theories, anti-press discourses and disinformation narratives to re-signify the attack. The research identifies strategies adopted to circumvent moderation policies, such as the use of coded language, migration to less regulated platforms and flamebaiting. The results reveal the challenges of regulating disinformation on digital platforms, highlighting the role of Telegram's affordances and the communicative practices of publics refracted in amplifying polarized and hateful discourses. This study contributes to the understanding of narrative disputes in hybrid informational ecosystems and offers insights for public policies aimed at tackling disinformation.