Desigualdades regionais em saúde em Santa Catarina: um estudo sobre a Síndrome Respiratória Aguda Grave por Covid-19 e cobertura vacinal (2020-2023)

Abstract

A Covid-19 é uma doença respiratória causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, com alta transmissibilidade e potencial para causar complicações graves e mortalidade, especialmente em populações vulneráveis. A vacinação contra Covid-19 é considerada uma medida de saúde pública crucial para reduzir as taxas de hospitalização e mortalidade pela doença. Quatro anos após o início da pandemia no Brasil, em junho de 2024 o Brasil era o sexto país com o maior número de casos confirmados e o segundo em mortes acumuladas por Covid-19. Até maio de 2024, 84,6% dos brasileiros completaram o esquema vacinal primário, enquanto apenas 52,76% receberam uma dose de reforço, havendo forte variação de acordo com a faixa etária da população. No entanto, há lacunas na literatura sobre as desigualdades em saúde relacionadas à pandemia de Covid-19 no Brasil, em especial mediante análises subnacionais e com recortes geográficos intraurbanos e intraestaduais. Dessa forma, o objetivo desse estudo foi analisar as desigualdades em desfechos de síndrome respiratória aguda grave por Covid-19 e vacinação contra Covid-19 no Estado de Santa Catarina entre 2020 e 2023. Foram analisados casos de SRAG por Covid-19 em todas as idades, de 2020 a 2023, nas vinte microrregiões de Santa Catarina. Foram estimadas taxas de mortalidade, letalidade, internações em UTI, uso de suporte ventilatório e testagem tardia. Calculou-se a razão e diferença absoluta entre as microrregiões para cada ano, além de realizar mapas de distribuição espacial dos desfechos. Avaliou-se também, as diferenças entre faixas etárias no estado. Para a análise da cobertura vacinal, os dados analisados incluíram indivíduos a partir de 12 anos, classificados em adolescentes, adultos e idosos, com foco na vacinação completa com três doses. Foram também considerados dados educacionais, de desenvolvimento humano municipal e composição racial dos municípios de Santa Catarina. Foram analisadas a evolução e a distribuição espacial da cobertura vacinal, com identificação de clusters estatisticamente significativos e cálculos da razão e diferença absolutas entre os maiores e menores quintis de cobertura vacinal. As microrregiões do estado mostraram notável heterogeneidade em todos os desfechos de SRAG por Covid-19 analisados, evidenciando que a pandemia não impactou todas as regiões da mesma maneira. O ano de 2021 foi especialmente letal, porém as disparidades na mortalidade e letalidade entre as regiões persistiram em todos os períodos da pandemia. Desigualdades ao longo do tempo foram demonstradas para internações em UTI, uso de suporte ventilatório e tempo de testagem. Indivíduos idosos foram os mais afetados pela mortalidade e letalidade. Em relação à cobertura vacinal, foram encontradas disparidades entre os municípios do Estado de Santa Catarina. Municípios com maior nível educacional, menor proporção de população negra e menor IDHM apresentaram maior cobertura vacinal contra a Covid-19. A vacinação foi mais desigual entre os jovens e menor entre os idosos. As disparidades se mantiveram persistentes desde o início até o final do período investigado. Clusters de municípios com altas taxas de vacinação foram encontrados na região Oeste Catarinense, e com baixa vacinação na região Norte Catarinense e no Vale do Itajaí. Estudos regionais são cruciais para identificar necessidades específicas e implementar intervenções equitativas. Os resultados deste estudo levantam questões sobre a equidade na saúde e a resposta à pandemia de Covid-19 em Santa Catarina evidenciando desigualdades persistentes ao longo de três anos e a necessidade de ações eficazes para enfrentá-las. As disparidades na cobertura vacinal revelaram padrões preocupantes e evidências de influência crucial de fatores socioeconômicos, sugerindo a necessidade de intervenções contínuas e políticas públicas direcionadas para garantir um acesso equitativo à vacinação em toda a população catarinense.

Abstract: Covid-19 is a respiratory disease caused by the SARS-CoV-2 coronavirus, with high transmissibility and potential to cause severe complications and mortality, especially in vulnerable populations. Covid-19 vaccination is considered a crucial public health measure to reduce hospitalization and mortality rates from the disease. Four years after the start of the pandemic in Brazil, in June 2024, Brazil was the sixth country with the highest number of confirmed cases and the second in accumulated deaths from Covid-19. By May 2024, 84.6% of Brazilians had completed the primary vaccination schedule, while only 52.76% had received a booster dose, with significant variation according to the age group. However, there are gaps in the literature regarding health inequalities related to the Covid-19 pandemic in Brazil, especially through subnational and intra-urban and intra-state geographic analyses. Thus, the objective of this study was to analyze the inequalities in outcomes of Severe Acute Respiratory Syndrome due to Covid-19 and Covid-19 vaccination in the state of Santa Catarina between 2020 and 2023. Cases of SARS due to Covid-19 were analyzed in all age groups from 2020 to 2023 in the twenty microregions of Santa Catarina. Mortality rates, lethality, ICU admissions, use of ventilatory support, and late testing were estimated. The ratio and absolute difference between microregions for each year were calculated, in addition to spatial distribution maps of the outcomes. Differences between age groups in the state were also evaluated. For the analysis of vaccination coverage, the analyzed data included individuals aged 12 and older, classified as adolescents, adults, and elderly, focusing on complete vaccination with three doses. Educational data, municipal human development, and racial composition of Santa Catarina municipalities were also considered. The evolution and spatial distribution of vaccination coverage were analyzed, identifying statistically significant clusters and calculating the ratio and absolute difference between the highest and lowest quintiles of vaccination coverage. The state's microregions showed remarkable heterogeneity in all analyzed outcomes of SARS due to Covid-19, indicating that the pandemic did not impact all regions in the same way. The year 2021 was especially lethal, but disparities in mortality and lethality between regions persisted in all periods of the pandemic. Inequalities over time were demonstrated for ICU admissions, use of ventilatory support, and testing time. Elderly individuals were the most affected by mortality and lethality. Regarding vaccination coverage, disparities were found among municipalities in the state of Santa Catarina. Municipalities with higher educational levels, a lower proportion of black population, and lower MHDI had higher Covid-19 vaccination coverage. Vaccination was more unequal among the young and lower among the elderly. Disparities persisted from the beginning to the end of the investigated period. Clusters of municipalities with high vaccination rates were found in the Western region of Santa Catarina, and with low vaccination in the Northern region and Vale do Itajaí. Regional studies are crucial to identify specific needs and implement equitable interventions. The results of this study raise questions about health equity and the response to the Covid-19 pandemic in Santa Catarina, highlighting persistent inequalities over three years and the need for effective actions to address them. Disparities in vaccination coverage revealed concerning patterns and evidence of a crucial influence of socioeconomic factors, suggesting the need for continuous interventions and targeted public policies to ensure equitable access to vaccination across the population of Santa Catarina.