“Rompi tratados, traí os ritos”: Opressões interseccionais na reprodução dependente - uma perspectiva brasileira para as Relações Internacionais

Abstract

This study undertook analytical efforts to explore possibilities, challenge boundaries, and expand the horizons between intersectionality and the Marxist dependency theory within the field of International Relations. From this perspective, it sought to comprehend the extent to which intersectional oppressions contribute to the condition of dependent reproduction, exploring possible dialogues and convergences between an intersectional approach and the critical revival of Marxist dependency theory for International Relations. This monograph is justified by addressing the gap in the field concerning the entanglement of oppressions that affect subjects and capitalist dependency, while also investigating the possibility of transformation, as evoked in the verse "I broke treaties, betrayed the rites." To this end, it was necessary to define intersectional oppressions within the Brazilian context through the contributions of Lélia Gonzalez, Heleieth Saffioti, and ANMIGA (National Articulation of Indigenous Women Warriors of Ancestry). This conceptual foundation enables the elucidation of the complex inequalities manifested specifically in the Brazilian context and the possibilities for social transformation. Subsequently, the study demonstrates the centrality of dependent reproduction, understood as the interweaving and complementarity of a univocal system— capitalism—primarily through the work of Vânia Bambirra, which forms the main axis of the critical revival of MTD. Thus, based on the theoretical premises discussed in Chapters One and Two, the research investigates intersectional oppressions within the Brazilian social structure using diagrams and a comparative chart to highlight argumentative convergences among different intersecting oppressions that reinforce dependency. The research is based on bibliographic and documentary analysis and is interpreted through a qualitative approach. The findings show that intersectional oppressions are embedded in the dynamics of the capitalist system, manifesting through the marginalization and erasure of subjects with intersectional identities, based on social categories such as gender, race, class, body-territory, and ethnicity. Moreover, the perpetuation of oppression persists when intersectional identities are delegitimized. In conclusion, despite an adverse and multifaceted context, the research embraces the interdisciplinary nature of the theme and argues that intersectionality offers new perspectives for consolidated theories such as Marxist dependency theory, opening critical and emancipatory possibilities for International Relations through the lens of complex inequalities.

O presente estudo concentrou esforços analíticos para explorar possibilidades, tensionar e ampliar os horizontes entre a Interseccionalidade e a Teoria Marxista da Dependência (TMD) no campo das Relações Internacionais. A partir dessa perspectiva, buscou-se compreender, em que medida, as opressões interseccionais contribuem para a situação de reprodução dependente, explorando possíveis diálogos e aproximações entre abordagem interseccional e o resgate crítico da TMD para as RIs. A monografia justifica-se por preencher a lacuna de conhecimento no campo das RIs sobre a imbricação das opressões que atravessam os sujeitos e a dependência capitalista, além de investigar a possibilidade de transformação do status quo vigente, como no verso “rompi tratados, traí os ritos”. Para tanto, foi necessário definir as opressões interseccionais à realidade brasileira, através das contribuições de Lélia Gonzalez, Heleieth Saffioti e ANMIGA (Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade). Essa base conceitual permite elucidar as desigualdades complexas que se manifestam, especificamente, no contexto brasileiro e as perspectivas das transformações sociais. Em seguida, demonstrar a centralidade da reprodução dependente que é o entrelaçamento e complementaridade de um sistema unívoco - o capitalismo. Por meio da obra de Vânia Bambirra, que se constituiu o eixo principal do resgate crítico da TMD. Os resultados evidenciam que as opressões interseccionais estão intrinsecamente articuladas ao funcionamento do sistema capitalista, manifestando-se por meio da marginalização e do apagamento de sujeitos cujas identidades atravessam múltiplas categorias sociais — como gênero, raça, classe, corpo-território e etnia. A perpetuação dessas opressões ocorre, sobretudo, quando tais identidades interseccionais são deslegitimadas, reforçando estruturas de exclusão e desigualdade. Por fim, a conjuntura é adversa e multifacetada, a pesquisa se desenvolveu com a interdisciplinaridade que esse tema abrange. Conclui-se que a Interseccionalidade oferece novas perspectivas para teorias consolidadas como a TMD, através das desigualdades complexas que abrem possibilidades para um pensamento mais crítico e emancipatório nas Relações Internacionais.