A disputa de narrativas sobre a MINUSTAH: interpretações da atuação brasileira na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (2003–2010)

Abstract

Este trabalho tem como objetivo analisar as diferentes narrativas construídas em torno da participação do Brasil na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), durante os dois primeiros mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003–2010). O estudo busca compreender como diversos atores sociopolíticos nacionais e internacionais, como o poder executivo, poder legislativo, militares, acadêmicos e representantes de movimentos sociais interpretaram o papel brasileiro na missão. Enquanto o discurso oficial do Governo Lula destacava o multilateralismo, a solidariedade Sul-Sul e o princípio da “não indiferença”, os críticos apontavam as contradições com princípios tradicionais da política externa brasileira, como a não intervenção e o respeito à soberania, bem como questionavam a violência causada pelas tropas brasileiras. Utilizando uma metodologia qualitativa baseada na análise documental e de discursos, a pesquisa identifica e categoriza perspectivas favoráveis e críticas, revelando os fundamentos políticos e ideológicos dessas visões. Os resultados desta pesquisa contribuem para o debate sobre a projeção internacional do Brasil, os limites da intervenção humanitária e a coerência entre o discurso diplomático e a prática militar.

The aim of this paper is to analyse the different narratives constructed around Brazil's participation in the United Nations Stabilization Mission in Haiti (MINUSTAH) during President Luiz Inácio Lula da Silva's first two terms in office (2003-2010). The study seeks to understand how various national and international socio-political actors, such as the executive branch, the legislative branch, the military, academics and representatives of social movements interpreted Brazil's role in the mission. While the official discourse of the Lula government highlighted multilateralism, South-South solidarity and the principle of “non-indifference”, critics pointed out the contradictions with traditional principles of Brazilian foreign policy, such as non-intervention and respect for sovereignty, as well as questioning the violence caused by Brazilian troops. Using a qualitative methodology based on documentary and discourse analysis, the research identifies and categorizes favourable and critical perspectives, revealing the political and ideological foundations of these views. The results of this research contribute to the debate on Brazil's international projection, the limits of humanitarian intervention and the coherence between diplomatic discourse and military practice.