Collective sensemaking no processo de resseguro frente à latência de catástrofes naturais, sob a perspectiva da estratégia como prática

Abstract

Diante do aumento da frequência e severidade das catástrofes naturais (NatCat’s), este estudo teve como objetivo compreender como ocorre o collective sensemaking no processo de resseguro frente a latência das catástrofes naturais, sob a perspectiva da estratégia como prática. Assim, por meio de observações em campo, levantamento documental e entrevistas semiestruturadas com diretores, gerentes e subscritores de cada ator (Resseguradora, Corretora e Seguradora), compreendemos que a efetividade do seguro como ferramenta de proteção na sociedade está diretamente relacionada à maneira como os atores do setor constroem sentido coletivo diante de desafios complexos, especialmente no processo do resseguro. Neste estudo, observamos que resseguradoras, seguradoras e corretoras formam uma rede interdependente, na qual as resseguradoras exercem papel de liderança fornecendo diretrizes baseadas em grandes bases de dados históricas. A construção de sentido se manifesta por meio de práticas cotidianas sustentadas por um mercado altamente nichado, com alto turnover entre empresas, mas forte retenção no setor, o que reforça práticas e práxis de atuação homogêneas no mercado. Elementos simbólicos como mythos organizacional, rituais, boa-fé, reputação, confiança e relações de pessoalidade emergem na construção de sentido e legitimação de processos. Na gestão de risco, as respostas estratégicas frente às NatCat’s ocorrem em três formas principais: recuperação (recovery) com cláusulas e termos mais restritivos; mitigação (alleviation) por meio de seguros paramétricos e micro seguradoras; e mudança estrutural (change-oriented) com a incorporação de critérios de subscrição pautados na ESG e a criação de sistemas de modelagem com previsão de risco climático. Assim, o collective sensemaking resulta de uma combinação entre pressões externas (como demanda social e acionistas), fatores culturais e práticas sociais, revelando que o processo de resseguro vai além da lógica técnico-financeira e opera como um campo simbólico e estratégico diante dos grand challenges.

Given the increasing frequency and severity of natural catastrophes (NatCat’s), this study aimed to understand how collective sensemaking occurs in the reinsurance process in response to the latency of such events, through the lens of strategy as practice. Through field observations, document analysis, and semi-structured interviews with directors, managers, and underwriters from each actor (Reinsurer, Broker, and Insurer), we understood that the effectiveness of insurance as a protection tool in society is directly related to the way in which the actors of the sector construct collective sensemaking in the face of complex challenges, especially in the reinsurance process. This study observed that reinsurers, insurers, and brokers form an interdependent network, where reinsurers play a leading role by providing guidance based on large historical data sets. Sensemaking is manifested through daily practices sustained by a highly specialized market, characterized by high turnover between companies but strong retention within the sector, which reinforces standardized practices and praxis. Symbolic elements such as organizational mythos, rituals, reputation, trust, and personal relationships emerge to the construction of meaning and the legitimization of processes. In risk management, strategic responses to NatCat’s take shape in three main forms: recovery, through more restrictive clauses and terms; alleviation, through parametric insurance and microinsurance; and change-oriented approaches, which involve incorporating ESG-driven underwriting criteria and the development of modeling systems with climate risk forecasting. Thus, collective sensemaking results from a combination of external pressures (such as social demand and shareholder influence), cultural factors, and social practices, revealing that the reinsurance process goes beyond a purely technical-financial logic and operates as a symbolic and strategic field in the face of grand challenges.